O edifício-sede da Polícia Federal, em Brasília, chacoalhou outra vez, em menos de uma semana, mas desta vez não foi por conta da invasão de vândalos. A oito dias de deixar o cargo de diretor-geral da PF e partir para uma confortável adidância policial na Embaixada do Brasil em Madri, na Espanha, o delegado Márcio Nunes de Oliveira baixou a Portaria 16.958, de 21 de dezembro de 2022, instituindo a criação e distribuição de broches folheados a ouro para quase uma centena de delegados ocupantes de cargos de chefia e assessoramento, em todo o País.
A medida é inédita, inusitada e jamais havia sido discutida dentro da PF. Não se sabe ainda o custo dessa novidade, nem quem será o fornecedor das pequenas joias a serem ostentadas nas lapelas de delegados e delegadas das seguintes funções: diretor-geral, chefe de gabinete; diretor-executivo; diretor de investigação e combate ao crime organizado e à corrupção; diretor de inteligência policial; corregedor-geral; diretor técnico-científico; diretor de gestão de pessoal; diretor de administração e logística policial; diretor de tecnologia da informação e inovação; superintendentes regionais; delegados regionais executivos; delegados regionais de investigação e combate ao crime organizado e à corrupção; e corregedores regionais.
Mas não para por aí. A portaria zé-das-medalhas ainda prevê que ex-ocupantes de cargos de comando também recebam um broche para chamar de seu: ex-diretores-gerais; ex-chefes de gabinetes; ex-diretores (de qualquer coisa); ex-corregedores-gerais e ex-superintendentes regionais.
A justificativa que consta na normativa faz jus à bizarrice da iniciativa. Segundo Márcio Oliveira, os broches têm a finalidade de criar “uma camada de segurança” para os agraciados, “de forma a acelerar o acesso a locais, áreas e espaços restritos ou reservados, reduzindo o tempo de exposição da autoridade a possíveis ameaças”. Ou seja, os broches de ouro vão servir para exatamente aquilo que servem os crachás que todos os servidores da PF usam: identificação e acesso aos setores da instituição. De que maneira os broches terão o poder de mitigar ameaças ainda é um mistério não esclarecido pela portaria do diretor-geral.
Afilhado político do ministro da Justiça, o também delegado federal Anderson Torres, Márcio Oliveira tem uma folha de serviços prestados à família Bolsonaro, razão pela qual ganhou uma sinecura na Espanha. A não ser que o futuro diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, mexa na nomeação, Oliveira vai passar três anos na Embaixada do Brasil em Madri, com salário de 16 mil dólares (cerca de R$ 83 mil) mensais, mais mordomias.
E ainda vai ter direito a um broche dourado.
Abaixo, a portaria:
*Com DCM