Tomando café frio e ainda sonhando com um golpe contra a posse de Lula, Bolsonaro está nomeando amigos para cargos públicos com mandato, aparelhando o futuro governo com aliados que poderão lhe garantir alguma forma de poder, influência e proteção.
Algumas indicações dependem de aprovação do Senado e podem ser bloqueadas ali, e outras podem ser revertidas por Lula mas isso dará trabalho e será desgastante.
Na sexta-feira, 18 de novembro, foram publicadas em edição extraordinária do Diário Oficial as indicações do ministro da Secretaria de Governo, Célio Faria Junior, e do assessor especial da Presidência João Henrique Nascimento de Freitas para a Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Eles terão mandatos de três anos, atravessando nos cargos quase todo o governo de Lula.
No dia 11 foram indicados sete diretores de agências reguladoras, cargos que também asseguram mandatos a seus dirigentes. Alexandre Reis Siqueira Freire foi indicado para o conselho diretor da Anatel, na vaga decorrente do término do mandato de Emmanoel Campelo de Sousa Pereira. Albert Furtado de Vasconcelos Neto e Caio César Faria Leôncio foram indicados para a diretoria da Antaq – Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Lucas Asfor Rocha Lima e Felipe Fernandes Queirós foram indicados para diretoria da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres. Ronaldo Jorge da Silva Lima foi reconduzido ao cargo de diretor da ANM – Agência Nacional de Mineração. Miriam Wimmer foi reconduzida ao cargo de Diretora do Conselho Diretor da Autoridade Nacional de Proteção de Dados.
Todas estas indicações dependem de aprovação do Senado. Se não forem aprovadas ainda este ano, Lula poderá retirar as indicações e propor outros nomes. Embora as agências reguladoras sejam teoricamente independentes do governo, seus dirigentes têm poder suficiente para embarreirar políticas públicas do Executivo.
Outro premiado com cargo mandatado foi Gilson Machado, o sanfoneiro que alegra as reuniões no Alvorada. Foi reconduzido à presidência da Embratur para um mandato de quatro anos.
Bolsonaro nomeou também, no dia 8 de novembro, nove integrantes do Conselho Nacional de Educação. Entre eles, Elizabeth Nunes Guedes, irmão do ministro Paulo Guedes e dirigente da associação de faculdades particulares.
Outra indicada é Leila Soares de Souza Perussolo, cunhada do governador reeleito de Roraima, o bolsonarista Antonio Denarium (PP). Ilona Maria Lustosa Becskehazy Ferrão é uma militante da ala ideológica do bolsonarismo. Ela foi para o MEC na gestão de Abraham Weintraub e foi exonerada depois que ele caiu, sendo substituído por Mauro Ribeiro, o amigo dos pastores. Agora vai para o CNE.
Outros indicados são Paulo Fossati, Luciane Bisognin, Henrique Sartori de Ameida Prado, ligado a Michel Temer, Mauro Luiz Rabelo e Marcia Teixeira Sebastiani.
Aguardam pela sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado 16 indicados para a chefia de embaixadas brasileiras. O futuro governo quer substituir pelo menos cinco destas indicações. Entre estas, a do indicado para a Embaixada brasileira em Buenos Aires, Helio Vitor Ramos Filho.
Como faltam ainda 40 dias para o fim do governo e Bolsonaro está com muito apetite para nomeações, outras ainda virão.
É como Lula disse: se ele tivesse um pingo de espírito republicano, teria cedido um avião da FAB para levar o presidente eleito à COP27 no Egito. E não estaria fazendo nomeações no apagar das luzes de seu governo.
Essa metáfora é ruim: o governo dele não teve luzes. Digamos assim, no dissipar das trevas de seu governo.
*Tereza Cruvinel/247