“Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo”. Eduardo Bolsonaro, antes do primeiro turno da eleição de 2018.
O general Hamilton Mourão funciona como o falso-gênero do militar democrata, profissional, legalista e civilizado.
Na realidade, no entanto, o brutamontes não passa de um Bolsonaro “perfumado”, por assim dizer.
Mourão é tão antidemocrático, autoritário e contrário ao STF quanto o Bolsonaro. Eles jogam no mesmo time – ou melhor, no mesmo Partido Militar – que desacredita as instituições e combate “o sistema”.
A diferença entre eles é que o general subiu na carreira militar e o capitão ganhou o prêmio da promoção, ao invés de ser expulso do Exército por prática terrorista.
O baderneiro planejou explodir bombas-relógio em instalações militares no Rio de Janeiro em 1988.
Via twitter, Mourão justificou com outra linguagem a mesma posição ilegal e inconstitucional do Bolsonaro a respeito do terrorismo praticado por hordas fascistas contrariadas com a vitória do Lula.
Ambos defendem a “legitimidade” dos atos terroristas totalmente destituídos de sentido, pois motivados pelo fato das hordas em transe não aceitarem a proclamação do resultado da eleição pelo TSE, o que caracteriza crime contra a ordem democrática.
Numa sequência de três tweets/comentários, o general expôs o entendimento deformado que, aliás, é muito corrente no interior das Forças Armadas intensamente politizadas e partidarizadas.
No primeiro tweet, Mourão escreveu:
“Brasileiros, há hoje um Sentimento de frustração, mas o problema surgiu quando aceitamos passivamente a escandalosa manobra jurídica que, sob um argumento pífio e decorridos 5 anos, anulou os processos e consequentes condenações do @LulaOficial.”.
Aqui, o general desrespeita a decisão do STF que anulou a farsa jurídica e reconheceu a suspeição e a incompetência do juiz-ladrão que, diga-se de passagem, promoveu o maior escândalo de corrupção judicial da história para abrir o caminho da eleição fraudulenta da chapa militar integrada pelo próprio Mourão em 2018.
Em entrevista ao Globo, o general foi mais explícito no ataque à decisão do STF.
“Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador (Lula) não deveria estar jogando”, ele disse, talvez imaginando que o tweet de abril de 2018 do general-conspirador Villas Bôas tivesse validade eterna – ou, pelo menos, validade por 100 anos, como o sigilo decretado pelo governo militar em relação a crimes, roubalheiras e bandalheiras cometidas.
O general defende, portanto, que não se deve aceitar “passivamente” aquelas decisões da Suprema Corte que contrariam os interesses da sua horda.
No segundo tweet, Mourão só descarta o golpe militar para instalar uma ditadura apenas porque “isso”, essa providência “banal”, deixaria o Brasil “numa situação difícil perante a comunidade internacional” [sic]:
“Agora querem que as Forças Armadas deem um golpe e coloquem o País numa situação difícil perante a comunidade internacional. As manifestações ordeiras, em justa indignação, são bem vindas. Vemos nelas famílias, idosos, crianças…todos pessoas de bem”.
Note-se que Mourão ainda considera como “manifestações ordeiras, em justa indignação” o terrorismo financiado por empresários inescrupulosos e adotado como linha oficial do governo do qual ele é vice-presidente.
“Justa indignação”, general?
Quer dizer que se insurgir violentamente contra a proclamação do resultado da eleição pelo TSE, autoridade eleitoral máxima do país, é justo e legítimo?
Ora, mesmo se as manifestações fossem “ordeiras e pacíficas”, elas ainda assim seriam ilegais e inconstitucionais, não poderiam ser realizadas, porque não se pode defender virada de mesa simplesmente porque não se gostou do resultado eleitoral.
Bom, e quanto ao critério do general sobre os baderneiros, a quem considera “todos pessoas de bem”, é coincidente com o perfil do herói bolsonarista Bob Granada. Faz parte da estética militar, digamos assim.
Na realidade, Mourão sabe que as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas só não perpetram um golpe porque perderam as condições objetivas e subjetivas para tal.
Estão isoladas internamente e internacionalmente e desacreditadas pelo desastre e destruição do país.
Estão também desmoralizadas com compras superfaturadas de Viagra, uísque 24 anos, próteses penianas, pensões vitalícias de netas de ditadores e outros escândalos do gênero.
No terceiro tweet, o general conclama a horda à luta e afiança que, no que depender da extrema-direita no Congresso, o Brasil vai
continuar nas trevas e dando marcha à ré:
“Está na hora de lançar um manifesto explicando isso e dizendo que temos força para bloquear as pautas puramente esquerdistas, além de termos total capacidade de retornarmos muito mais fortes em 2026. Precisamos viver para lutar no dia seguinte”.
O general Mourão deixa muito claro que, apesar da derrota na batalha eleitoral, os fascistas continuarão a guerra sem tréguas que não é só contra Lula, porque é contra a democracia, para implantarem um “novo” regime – autoritário, ditatorial, reacionário e ultraliberal.
Com “bloquear as pautas” no Congresso, Mourão quis dizer: obstruir a democracia e combater todas as medidas a favor do Brasil e do povo brasileiro.
Depois de eleito senador na mesma eleição que agora contesta, Mourão prometeu trabalhar pelo impeachment de ministros do STF – sempre, é claro, por uma “justa indignação”.
Como sabemos, a desfiguração das Supremas Cortes dos países é a fórmula adotada pela extrema-direita fascista para avançar projetos autocráticos e autoritários.
A guerra fascista contra a democracia continua e avança.
O general Mourão já se escalou na linha de frente do combate. Se preciso, substitui Bolsonaro na liderança, caso o Pedófilo seja descartado pelas cúpulas militares devido à inutilidade no próximo período.
A depender do Mourão, não será preciso nem um soldado nem um cabo para fechar o STF.