O presidente está como uma biruta de aeroporto.
O fim do mundo para qualquer candidato é chegar a 5 dias das eleições bem atrás do seu concorrente, e, pior: tendo que enfrentar uma agenda de assuntos que lhe são claramente adversos.
É assim que está Bolsonaro. Embora não tenha vencido o primeiro turno com 60% dos votos, como estimava, entrou no segundo com os ventos soprando fortemente a seu favor.
Na reta final do primeiro, havia o risco de Lula se eleger, mas Bolsonaro foi favorecido pela migração de última hora de parte dos eleitores de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes.
Verdade que para Lula faltaram 1.800 mil votos para que se elegesse, e a ele, 8 milhões, em números redondos. Mas o fato de ter passado para o segundo turno, as coisas melhoraram para ele.
Governadores eleitos, entre eles Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, correram ao Palácio da Alvorada para declarar seu apoio a Bolsonaro, além de senadores, deputados federais e prefeitos.
A rejeição dele, segundo pesquisas, diminuiu; aumentaram a aprovação do governo e avaliação positiva da maneira como Bolsonaro governa. Poderia ser a “visita da saúde”?
Poderia, mas poderia também ser sinal de que ele daria a volta por cima. A “visita da saúde” é como as pessoas se referem a um doente que, à beira da morte, melhora antes de morrer.
As duas primeiras semanas do segundo turno restabeleceram a confiança de Bolsonaro na vitória, e acenderam a luz amarela no QG de campanha de Lula e dos seus aliados. Aí, aí…
Aí, tudo passou a desandar. Veio o caso do “pintou um clima” entre ele e adolescentes venezuelanas refugiadas no Brasil. Ele chamou as meninas de “garotas de programa” e mentiu.
As explicações que Bolsonaro ofereceu não convenceram ninguém. Talvez não tenham convencido, sequer, Michelle, a primeira-dama, que mesmo assim saiu em seu socorro.
Veio o caso do reajuste do salário mínimo abaixo da inflação. Foi o ministro Paulo Guedes, da Economia, que acenou com o reajuste abaixo da inflação para o próximo ano. O caso segue em cartaz.
Na última sexta-feira, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) atacou a ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, aplicando-lhe um golpe imundo abaixo da linha da cintura.
Bolsonaro ouviu calado. Até que no domingo, Jefferson resolveu tocar fogo no circo do ex-capitão: disparou 50 tiros de fuzis e lançou 3 granadas nos federais que foram prendê-lo.
Levou mais de oito horas para Bolsonaro acordar e entender a gravidade do episódio, longe de se esgotar. Foi a justiça que mandou prender Jefferson, e foi Bolsonaro que protelou a prisão.
Bandido bom, para Bolsonaro, é bandido morto, desde que seja seu amigo, como Jefferson é. Bandido que reage armado à prisão, na maioria das vezes, é morto ou ferido pela polícia.
Dois agentes foram feridos, um cinegrafista de televisão apanhou de bolsonaristas admiradores de Jefferson, e o ministro da Justiça, que nada tinha a ver com aquilo, foi acionado por Bolsonaro.
Todos os protocolos da Polícia Federal para cumprimento de uma ordem de prisão acabaram no lixo – por ordem de quem? De Bolsonaro. Por que? Porque o bandido a ser preso é seu amigo.
Como defender-se da conjunção de fatos que poderá derrotá-lo depois de ter perdido mais de 100 inserções de comerciais no rádio e na televisão? Perdeu porque veiculou fake news.
O que o ministro Fábio Farias, das Comunicações, protagonizou, ontem à noite, no Palácio do Alvorada foi um ato que dá a medida do desespero de Bolsonaro e da sua turma.
A fake news do ministro, desmascarada de imediato pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, fala do boicote de emissoras de rádio à propaganda de Bolsonaro.
Trata-se de um suposto levantamento feito por uma empresa de tecnologia de Santa Catarina fundada em 2002. Carece de provas para sustentá-lo. Moraes desprezou-o liminarmente.
O que será capaz de reverter o jogo a favor de Bolsonaro nos próximos dias? O debate com Lula nesta quinta-feira que será transmitido pela Rede Globo de Televisão? Improvável.
A consolidação dos votos é gigantesca. Algo como 93% dos eleitores dizem já saber em quem votar. O “efeito Jefferson” só será medido por pesquisas a partir de amanhã.
Lula pode seguir jogando parado. Bolsonaro é que terá de ir para cima dele. Essa será uma eleição que talvez não termine tão apertada como parecia. A conferir.
*Noblat/Metrópoles