Especialistas não veem influência do debate presidencial na Band, neste domingo (16), no cenário eleitoral com alteração de votos, mas apostam na consolidação de Lula em função dos dois primeiros blocos.
Para especialistas no cenário eleitoral, o primeiro debate presidencial deste segundo turno, realizado ontem (16) pela Band, não deve alterar a definição de votos. A avaliação do cientista político Alberto Carlos Almeida, autor dos livros A cabeça do brasileiro, A cabeça do eleitor e O voto do brasileiro (Record) é que, em função do primeiro e do segundo blocos do confronto, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) consolidou os votos daqueles eleitores que, em 2018, chegaram a votar em seu adversário, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que, após a pandemia de covid-19, mudaram o voto para Lula neste pleito.
A análise leva em conta o desempenho do petista sobre esse tema da crise sanitária e suas consequências. No primeiro embate direto com Bolsonaro, Lula soube pressionar o atual mandatário com relação à falta de gestão em meio à pandemia no momento de maior audiência do debate. De acordo com Almeida, o confronto entre os candidatos é acompanhado sobretudo por aquelas pessoas mais interessadas em política, mas que dedicam atenção ao início do evento e se dispersam antes do final.
Nesse sentido, Lula “mobilizou um tema importante” ao pautar Bolsonaro. “E aqueles eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 e agora votam Lula, votam no PT, eles mudaram de voto por causa da pandemia e do que veio junto com a pandemia. A desorganização da educação, saúde, economia, o mau gerenciamento de Bolsonaro com relação à pandemia, tudo isso é uma coisa só. O que fizeram eles mudarem de voto foi justamente esse conjunto de coisas em torno da pandemia”, observa Almeida.
Bolsonaro no zero a zero
O especialista também criticou as análises de comentaristas que oscilaram suas impressões entre um possível empate entre os candidatos, ou uma vitória por pontos, ora para Lula, ora para Bolsonaro. “Tudo isso é do ponto de vista da pessoa que analisa o debate, não do eleitor”, ressalta o especialista. “É autocentrado, você tem que ver o debate do ponto de vista do indecisos. E o fato é que, nesse debate, no máximo, em função do primeiro bloco, Lula consolidou votos que mudaram de Bolsonaro, em 2018, para Lula em 2022. Apenas isso.”
Almeida também não vê alteração nos votos de Bolsonaro, que também está envolto em uma série de polêmicas. “O fato é que faltam menos de duas semanas para a eleição. E a semana que passou foi uma semana com um noticiário desfavorável a Bolsonaro, pedofilia, Aparecida”, comenta ele em referência à fala do candidato à reeleição em uma entrevista ao canal Paparazzo Rubo-Negro, no YouTube, onde afirmou ter “pintado um clima” ao se referir a adolescentes venezuelanas em uma casa visitada por ele no Distrito Federal, em 2021, além da arruaça promovida por bolsonaristas no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, na semana passada.
Diferenças de propostas
As análises do cientista político também são compartilhadas pelo professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rogério Dultra dos Santos, integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, ele pondera que, apesar de Bolsonaro ter fechado o terceiro bloco com cinco minutos de fala, sem interrupção, o mandatário se dirigiu especificamente para o público que já é mais próximo dele.
Diante disso, o jurista também não vislumbra uma mudança nas intenções de voto dos eleitores, porque também “não houve uma vitória acachapante de Lula. Embora ele tenha ido de forma mais qualificada no debate. Inclusive, algumas pesquisas que monitoram os eleitores indicaram uma clara vitória de Lula com mais de 50%, contra cerca de 30% de Bolsonaro (durante o evento). Mas o debate não muda voto, o que muda voto é a mobilização dos eleitores nas ruas, conversando com as pessoas, procurando identificar os indecisos. Esse corpo a corpo que vai fazer diferença no final”, afere.
Diferente de Almeida, contudo, Santos diz que o ponto alto do embate foi o momento em que o ex-presidente falou sobre a educação e a construção de universidades e da importância do ensino público e gratuito. Ao que o candidato do PL respondeu citando a produção de um aplicativo para ensinar as pessoas a lerem, ignorando as desigualdades no acesso.
O jurista conclui que o debate deixou evidente “uma diferença brutal entre duas propostas. Uma (Lula) que é de civilização e desenvolvimento social. E outra (Bolsonaro) que é para ‘Inglês ver’, não tem nenhuma consistência”, finaliza.
*Com RBA