Professora da comunidade de São Sebastião relatou ao GGN a verdadeira situação da casa de acolhimento citada por Bolsonaro.
A professora Pilar Acosta, da comunidade de São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal, que recebeu uma visita de Jair Bolsonaro (PL) em 2021, desmentiu as declarações do mandatário sobre a situação de uma casa de acolhimento em que ele teria encontrado um grupo de adolescentes vindas da Venezuela “arrumadas para ganhar a vida”, em clara insinuação de prostituição infantil.
“Há uma casa de acolhimento para pessoas em situação de rua e para imigrantes na cidade, que fica perto do Terminal de ônibus. Ninguém pode entrar lá sem identificação, muitos assistentes sociais e conselheiros tutelares fazem atendimento lá. Não há nenhuma denúncia de prostituição de meninas naquele local, sendo um espaço extremamente sério”, conta a professora ao Jornal GGN.
Em entrevista ao podcast Paparazzo Rubro-Negro, na sexta-feira (14), Bolsonaro declarou, sem qualquer constrangimento, que “pintou um clima” com “menininhas de 14 e 15 anos” quando ele passeava de moto pela comunidade no ano passado, durante a pandemia de Covid-19.
“Parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas… Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, afirmou Bolsonaro.
Bolsonaro usou o caso para reforçar sua retórica de que o Brasil pode “se tornar uma Venezuela” caso o ex-presidente Lula (PT) vença a eleição.
De acordo com uma transmissão ao vivo vinculada ao seu perfil do Facebook, ele visitou a residência no Bairro Morro da Cruz, acompanhado de uma comitiva. Na gravação, ele aparece conversando com mulheres que moram no local que vieram da Venezuela para o Brasil “em busca de uma vida melhor”.
“São Sebastião é uma cidade com muito fluxo migratório por ser a mais próxima do plano piloto (centro da cidade). Depois, as pessoas vão para outras cidades como Ceilândia e Taguatinga. Assim, temos, efetivamente, muitos imigrantes também venezuelanos na cidade de São Sebastião, e que estão quase que totalmente desassistidos pela falta de políticas de assistência do Ibaneis [governador reeleito do Distrito Federal]”, explica Pilar.
“Por outro lado, há iniciativas como a casa de acolhimento e o projeto de ensino de português do Brasil como língua adicional e de acolhimento pelo Instituto Federal de Brasília. Por fim, a comunidade de São Sebastião se sentiu desrespeitada pelas falas do Bolsonaro”, afirma a professora.
*Com GGN