Poderia ser ignorância, mas editorial da Folha é fruto das escolhas de seu dono, Luiz Frias, que centou os negócios do grupo em banco, não em jornalismo.
Joaquim de Carvalho – Folha de S. Paulo faz uma visita ao marketing político dos anos 90 para atacar Lula, sem observar que a conclusão do editorial aponta no sentido exatamente contrário ao da frase que sintetiza essa diretriz de marketing.
Explico melhor: em 1992, o marqueteiro James Carville reordenou a campanha de Bill Clinton com um plano de propaganda que se resumia a uma frase, que teria sido dita ao então candidato a presidente dos EUA: “É a economia, estúpido!”
Neste domingo, Folha de S. Paulo publica em sua primeira página editorial com o título “É a economia, Lula!”.
No texto, o jornal diz que Lula, favorito para vencer as eleições, “está obrigado a dizer o que pretende mudar ou preservar” na economia.
Lula já disse, nas diretrizes de seu plano de governo e também em entrevistas. Entre outros pontos, pretende revisar a reforma trabalhista – não revogar -, acabar com o teto de gastos, sem ferir a lei da responsabilidade fiscal, e investir na recuperação salarial, inclusive do salário mínimo (inflação mais variação do PIB).
Também pretende recuperar a capacidade de crédito dos consumidores endividados, com o programa “desenrola”. Ao mesmo tempo, aponta a necessidade de atrair novos investimentos, com a reabertura de portas diplomáticas, que Bolsonaro, tosco e extremista, fechou.
Folha ignora, portanto, que a liderança de Lula decorre justamente da prosperidade econômica para a qual o candidato do PT aponta, diante da ruína produzida por Bolsonaro, porque, ao contrário do que diz o jornal, a agenda liberal dos últimos anos NÃO trouxe avanços duradouros.
Talvez o projeto Ponte para o Futuro, compromisso do golpe de 2016, tenha sido bom para empresários como Luiz Frias, dono da Folha, que aumentou sua fortuna ao centrar os negócios do grupo em banco, o PagBank, e transformar o jornal numa voz escancarada do neoliberalismo.
Mas, para o povo em geral, não foi. Basta olhar para os números. No último ano de normalidade das condições de governo de Dilma Rousseff, o desemprego era de 4,7%, o menor da série histórica – praticamente, pleno emprego.
Entre 2003 e 2013, o Brasil cresceu, em média, 4,1%. E os governos Lula e Dilma acumularam reservas superiores a 350 bilhões de dólares, que garante até hoje a solidez da moeda.
Os repórteres da Folha não precisam ir muito longe para ver a ruína que se abateu sobre o Brasil depois de golpe, de que Bolsonaro é beneficiário.
A sede do jornal é no centro de São Paulo e, na vizinhança, os repórteres podem ver que aumentou o número de moradores de rua e de pessoas pedindo um prato de comida. Mesmo que repórteres queiram mostrar essa dura realidade, teriam dificuldade para ver a matéria publicada.
Na Praça da Sé, ao contrário do que a Folha diz, o cenário é SIM de terra arrasada.
Quando fiz ali reportagem na Sé sobre a volta do Brasil ao Mapa da Fome, há algumas semanas, era grande o número de pessoas que, espontaneamente, falavam sobre como a vida era melhor no tempo de Lula e por que votariam nele para ter de volta esses tempos de menor dificuldade.
Portanto, Folha, olhe para seu entorno e verá que a liderança de Lula não é resultado de mágica ou ilusão por parte dos eleitores. Como diria James Carville, é a economia, estúpida!
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