Na busca por culpados entre aliados de Bolsonaro, o alvo agora é Fabio Wajngarten.
Segundo Malu Gaspar, O Globo, com a candidatura de Jair Bolsonaro estacionada bem atrás de Lula nas pesquisas eleitorais e apontando a probabilidade de o petista ganhar a eleição no primeiro turno, os integrantes da coordenação de campanha do presidente já começaram a distribuir as culpas internamente pelos erros cometidos ao longo do caminho.
O maior culpado de todos, desabafaram integrantes da ala política com interlocutores de fora da campanha – no empresariado e na imprensa – é o próprio Bolsonaro, que, nas palavras deles, “não aceita conselhos, não quer treinamento e não acredita em pesquisas”.
Mas como o presidente é o chefe, a terceirização dos erros acaba se concentrando na figura de Fabio Wajngarten, ex-secretário de comunicação do governo que foi trazido de volta em junho para também coordenar a comunicação da candidatura de Bolsonaro.
O núcleo político coloca na conta de Wajngarten o apoio a atitudes do presidente que pioraram sua imagem diante do eleitorado indeciso e portanto mais moderado, de fora da bolha conservadora.
Uma delas teria sido a iniciativa de Bolsonaro de improvisar um comício na sacada da casa do embaixador brasileiro em Londres durante o funeral da rainha Elizabeth.
Outro gesto de Wajngarten que colocou os políticos de cabelo em pé foi o apoio à fala de Bolsonaro no dia 7 de setembro, dizendo ser “imbrochável”.
De acordo com os relatos dos integrantes da campanha a interlocutores, Wajngarten endossou a declaração, considerada ruim internamente por despertar a rejeição do público feminino. “Presidente, que mulher gosta de homem broxa?”, teria questionado o auxiliar, ao entrar no carro com Bolsonaro naquele dia.
Esses integrantes da ala política se referem a Wajngarten como “nitroglicerina pura” e se queixam de que ele é muito tenso e tem mania de perseguição.
Procurado para comentar as críticas sobre seu comportamento, Wajngarten disse que as informações prestadas à equipe da coluna são falsas e que não há ruídos entre ele e nenhum membro da equipe.
“São falsas e posso provar”, afirmou. Para demonstrar o que dizia, enviou uma selfie em que aparece sorridente com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e pediu aos membros da equipe de Bolsonaro que me procurassem para dizer que está tudo bem entre eles.
Mesmo assim, os integrantes da ala política da campanha continuaram a falar de Wajngarten em conversas com terceiros como um incentivador de posturas radicais do presidente da República.
Também reclamaram que, ao longo das últimas semanas, o presidente não conseguiu ou não quis fugir do roteiro “motociata, discurso, culto evangélico” que dominou todas as suas agendas.
A divisão entre a ala política e a ala mais ideológica da campanha não é nova.
Desde o início da corrida eleitoral houve rachas sobre a melhor estratégia a seguir: se Bolsonaro deveria adotar um discurso mais moderado e propositivo ou se deveria investir na radicalização e falar para a bolha como forma de chegar ao segundo turno com Lula.
A primeira alternativa foi defendida pela ala política e pelo marqueteiro Duda Lima, que produziu os primeiros vídeos.
“”Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração, ninguém segura esse novo Brasil”, dizia o slogan com que Bolsonaro estreou no horário eleitora, e que foi considerado confuso e sem força pela ala ideológica. Aos poucos, a ala ideológica foi ganhando espaço e a mensagem propositiva foi sendo substituída por mais ataques a Lula e à esquerda.
Inicialmente, a missão de Wajngarten era fazer a interlocução com emissoras de TV, já que ele tem uma empresa de medição de audiência que presta serviços a várias delas.
Outra de suas tarefas era ser um elo entre o entorno do presidente no Palácio do Planalto, considerado muito ideológico pela ala política e profissional da campanha.
Desde o início, porém, Wajngarten acumulou desentendimentos com os auxiliares de Bolsonaro no Palácio, com os próprios membros da campanha e com os ministros políticos. Talvez por isso tenha se tornado a Geni da vez entre os aliados do presidente. Numa campanha que as coisas vão mal, o que não falta são culpados. Wajngarten é apenas o alvo da vez.