Jamil Chade – O Itamaraty cancelou um evento em Madri onde um livro seria debatido, no âmbito das comemorações dos 200 anos da independência do Brasil. O incidente ocorreu quando os autores já estavam na capital espanhola e 24 horas após a inclusão no programa oficial de uma referência ao fato de ele ser o escritor de uma obra que denunciava o fascismo no país.
Oficialmente, o motivo foi a impossibilidade de que o embaixador do Brasil na Espanha estivesse presente ao evento, organizado ainda no primeiro semestre do ano. Mas, na prática regular do Itamaraty, tais circunstâncias de ausência são frequentes e um embaixador é sempre substituído por algum diplomata da chancelaria, sem qualquer risco para os eventos.
Procurado em duas ocasiões, o Itamaraty não deu satisfação sobre o ocorrido em Madri e pediu que a pergunta fosse redirecionada para a embaixada do Brasil na capital espanhola.
De acordo com o embaixador do Brasil em Madri, Orlando Ribeiro, “nem todos os temas merecem ser analisados sob o prisma do embate político”. “Caso tivesse sido procurado, teria prazer em esclarecer-lhe sobre a participação brasileira no evento do bicentenário, organizado pela SEGIB e Embaixadas do Brasil e de Portugal, previsto para ocorrer em 15/9”, explicou.
“A nossa participação no evento tinha como mote o lançamento de primeiro tomo de trilogia sobre o bicentenário, em parceria com a Universidade de Salamanca, com a presença do organizador da obra”, disse.
“Como nenhuma das duas coisas puderam ocorrer nos prazos previstos – o lançamento e a presença do autor -, achamos por bem adiar a participação brasileira, que aliás não faria sentido sem essas duas entregas. Não nos pareceu que o adiamento poderia ser um problema. Tratava-se de evento circunscrito a 30 pessoas e, até o início desta semana, sem formato definido”, afirmou.
Mas fontes ligadas aos organizadores admitiram, na condição de anonimato, a existência de uma pressão por parte do Brasil. A versão dada pelo embaixador não é a mesma que apresentam os convidados.
O evento seria dedicado a debater o libro de Isabel Lucas, “Viagem ao País do Futuro – O Brasil pelos livros”. Quem faria o debate com ela seria Paulo Roberto Pires, editora da revista literária Serrote. Ele havia sido convidado pela embaixada de Portugal na Espanha.
Na terça-feira, quando já tinha pousado em Madri, ele conta que recebeu um aviso por parte dos organizadores que, por conta da ausência do embaixador brasileiro, o evento seria anulado. O governo português explicou ao UOL que foi contra o cancelamento.
Mas que pediria que a reportagem entrasse em contato com a embaixada do Brasil para obter maiores detalhes. Mas a ausência do embaixador ocorreu depois que foi incluído no programa que Pires é o autor da obra “Diante do Fascismo, Crónicas de um País à Beira do Abismo”.
*Com Uol