Com o presidente Jair Bolsonaro estagnado nas pesquisas de intenção de voto, sua campanha digital tem se esforçado em vender a ideia de que elas mentem. Nesse contexto, os comícios que preparou para este 7 de Setembro têm, entre outros objetivos, produzir imagens para “provar” que o povo estaria a seu lado.
Uma conhecida tática adotada pela equipe do presidente é usar imagens de aglomerações a fim de tentar convencer que o apoio a Jair é bem maior do que realmente é.
Partem de um fato concreto (o presidente é realmente uma pessoa popular capaz de atrair muita gente) para vender uma extrapolação falsa (essas multidões demonstram que a maioria dos brasileiros está com ele).
Não é de hoje que ele faz isso. Durante sua campanha eleitoral de 2018, fãs eram convocados para recebê-lo nos aeroportos das cidades por onde Bolsonaro passava. A suposta “surpresa” do candidato transmitia a ideia de que aquilo era um ato orgânico, quando não era de fato.
Além disso, o enquadramento das fotos e vídeos da aglomeração passava a ideia de que era muito maior do que a realidade. É uma mensagem poderosa mostrar um político ser recebido em sua cidade com pompas de músico ou jogar de futebol famosos. No mínimo, atrai a atenção de indecisos.
Mesmo a escolha por motociatas teve, ao longo dos últimos anos, um fator de ilusionismo, uma vez que você pode ocupar um espaço muito grande de rodovia de forma rápida e com menos gente que seria necessário para preencher uma passeata ou um comício. O que também produziu boas fotos que enganam.
Em junho de 2021, o bolsonarismo, já em plena campanha pela reeleição, vendeu que 1,3 milhão de motos participaram de um ato com Bolsonaro no interior de São Paulo. Porém, as praças de pedágio da Rodovia dos Bandeirantes mostraram a passagem de 6.661 motos.
Considerando que o eleitorado apto a votar consiste em 156.454.011 de pessoas, os 31% (segundo o Ipec) que pretendem apoia-lo representam 48,5 milhões. É muita gente, capaz de preencher ruas e praças, mas ainda assim é um montante menor do que os 44% que Lula têm hoje, ou seja, 68,8 milhões.
Ou seja, mesmo se encher a Esplanada dos Ministérios, a avenida Atlântica e a avenida Paulista, estando presente nos dois primeiros, Bolsonaro não poderá dizer que a maioria do povo brasileiro está com ele, mas sim que ele é capaz de mobilizar seus seguidores.
De acordo com institutos de pesquisa, o bolsonarismo-raiz gira em torno de 15% da população, o que, repito, não é pouca gente. Esse grupo está com ele em todos os momentos, até embaixo do frio e da chuva que o dia promete para a capital paulista.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro foi bem-sucedido ao se aproveitar de uma data cívica para sobrepor um comício, atraindo pessoas que estavam acostumadas, desde criança, a ir ver desfiles de 7 de Setembro. E que, agora, ouvirão discursos sobre fraudes em urnas eletrônicas, xingamentos contra ministros do STF e outras pregações golpistas.
Jair precisa de imagens produzidas nesses três epicentros de seus comícios para reforçar o padrão que vem adotando antes mesmo de ser presidente. Por isso, fotos e vídeos produzidos nesta quarta irão circular pelos grupos de WhatsApp e de Telegram e pelas redes sociais, transmitindo a ideia de que o país está com ele.
E, consequentemente, que apoia suas pautas antidemocráticas, como o emparedamento das instituições, a ameaça aos opositores, os ataques às urnas, a excitação de seus cabos eleitorais.
Não é o único ilusionismo praticado pela campanha do presidente. Ela também se aproveita da ignorância em matemática de parte da população para vender que enquetes realizadas dentro da bolha bolsonarista têm mais valor que pesquisas feitas com o rigor científico. Como tem muita gente que nunca teve uma aula de estatística, caem no conto do vigário.
Bolsonaro falará ao seu povo escolhido, o que é muita gente, mas exclui mais gente ainda. Alheia a essas movimentações, a grande massa de trabalhadores pobres estará mais preocupada em tentar garantir a própria sobrevivência do que acompanhar os comícios do presidente pagos com dinheiro público. De acordo com o Ipec, a sua rejeição entre quem ganha até um salário mínimo oscilou de 53% para 56% em uma semana.
*Sakamoto/Uol