Ministros usaram voo da FAB para inflar Auxílio Brasil em São Paulo

Compartilhe

Voos pagos com dinheiro público levaram ministros para promover principal aposta eleitoral de Jair Bolsonaro; presença não surtiu efeito.

Quatro ministros usaram voos da Força Aérea Brasileira (FAB) para acompanhar, no último dia 9, em São Paulo, o início do pagamento do Auxílio Brasil turbinado – principal aposta de Jair Bolsonaro para tentar se aproximar de Lula nas pesquisas. Apesar da presença dos ministros em uma agência da Caixa, o repasse do benefício causou filas em todo o país.

O avião da FAB com 91 pessoas partiu de Brasília a São Paulo às 8h25 do último dia 9, e retornou às 17h40. Naquele dia, os ministros da Cidadania, Ronaldo Bento; da Infraestrutura, Marcelo Sampaio; do Turismo, Carlos Brito; e da Agricultura, Marcos Montes, foram a uma agência da Caixa no bairro paulistano Santo Amaro. Segundo o governo, tratou-se de uma “visita técnica”.

A comitiva do mandato Bolsonaro nesse voo contou com mais quatro ministros e 83 auxiliares, sendo 25 apenas do Ministério da Infraestrutura. Além de buscar inflar o início do pagamento do Auxílio Brasil com um valor maior, às vésperas da eleição, outros quatro ministros voaram com verba pública para o evento intitulado Caixa para Elas. Foram eles: o advogado-geral da União, Bruno Bianco; o ministro da Educação, Victor Godoy; o ministro do Trabalho, José Oliveira; e a ministra dos Direitos Humanos, Cristiane Britto.

O evento serviu para Bolsonaro tentar fazer dois movimentos em busca de voto: acenar ao eleitorado feminino e se distanciar das investigações de assédio sexual e moral contra o aliado Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa.

Ninguém ignora que o sigilo é crucial para o avanço de investigações sensíveis, especialmente as que tratam de organização criminosa. Portanto, enquanto não houver explicações mais detalhadas, não há que questionar a legitimidade da operação.

Ainda assim, não dá para deixar de notar que o embate entre o Estado de Direito e o “Estado policialesco” levou a algumas das reviravoltas mais importantes da nossa história política recente — e com ele deveríamos ter aprendido algumas lições.

Em 2020, ao votar no Supremo pela legalidade do inquérito das fake news, o ministro Edson Fachin não deixou dúvida: “Atentar contra um dos Poderes, incitando o seu fechamento, a morte, a prisão de seus membros, a desobediência a seus atos, o vazamento de informações sigilosas não são manifestações protegidas pela liberdade de expressão”.

É crime. Mas, como disse Fachin, “o antídoto à intolerância é a legalidade democrática. É preciso precatar-se para que a dose do remédio não o torne um veneno”.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

%d blogueiros gostam disto: