Horas antes desta apuração, o governador paranaense publicou em suas redes sociais que o Estado seria um dos três mais transparentes do país.
Segundo a Forum, o governo do Paraná gastou ao menos R$ 569.858,39 com as refeições de Ratinho Jr e recepções oficiais no Palácio do Iguaçu, de acordo com documentos oficiais obtidos com exclusividade pela Revista Fórum.
A informação foi apurada horas depois do governador fazer uma postagem em suas redes sociais na qual afirmou que o Estado seria um exemplo de transparência, estando entre os três estados melhores colocados no quesito. Para isso, resgatou uma manchete do jornal Extra, de fevereiro de 2008, que informa que o Paraná teria gasto R$20 milhões com cartões corporativos no ano anterior àquele; e a contrapôs com uma matéria do mês passado publicada no Uol, que coloca justamente o Paraná como um dos três estados campeões em transparência.
Ainda em fevereiro de 2008, dois depois da matéria que denunciava os gastos paranaenses com cartão corporativo, o então deputado Caíto Quintana (MDB-PR), hoje falecido, explicou em nota publicada pela Assembleia Legislativa do Paraná que, diferente do cartão corporativo federal, o cartão corporativo do governo estadual paranaense só pode ser utilizado para cobrir diárias e despesas de viagem de pessoas autorizadas que necessitam realizar tais despesas em nome da administração estatal. A informação foi confirmada pela reportagem no site do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR).
Ao que parece, a regra não valeu na hora do restaurante do governador ir às compras. Ao analisar os documentos, vemos que não falta praticamente nada na cozinha do Palácio Iguaçu, é como entrar em um empório de alto requinte. Tem de tudo: figo, palmito, alcaparras, frutas, damascos, mirtilo e vários tipos de frios.
Empório do Palácio Iguaçu
Diferentes licitações entre os anos 2021 e 2022, disponíveis no Portal da Transparência, mostram que entre os itens adquiridos para o chamado Restaurante da Governadoria estão produtos de alto custo como polvo, camarão, peixe congrio, paleta de cordeiro, picanha e filé mignon. O total em carnes soma R$ 182 mil.
Apenas em pescados, o gasto é de R$ 104.797,00. Para a compra de peixe congrio, cujo quilo gira em torno dos R$90, foram despendidos R$ 27.115,00. Para salmão R$ 18.680 e polvo, R$ 5.820,00. Em picanha e filé mignon, os gastos somaram R$ 37.748,00.
Tais gastos com produtos de luxo aconteceram justamente no período em que a situação da fome no país atingiu 33 milhões de pessoas – 14 milhões a mais que em 2021.
Outro aquisição que chama atenção é a de café. Foram gastos R$ 31.185 para a compra de 2.100 unidades de 500 gramas. A quantidade é suficiente para preparar 21 mil litros da bebida. Se cada pessoa tomasse meio litro, seria possível servir 42 mil pessoas – o mesmo que um estádio lotado do Athlético Paranaense.
A reportagem não encontrou no portal da Transparência compras referentes aos anos de 2019 e 2020.