A varíola dos macacos já deixa 1.369 doentes no Brasil, mais de mil em São Paulo. Ao menos quatro mortes foram confirmadas no mundo.
O Ministério da Saúde confirma 1.369 casos de varíola dos macacos no Brasil, mas o número pode ser maior. Isso porque especialistas apontam para uma subnotificação, provocada pela falta de estrutura de testagem e rastreio de contágio – algo similar ao que foi visto durante a pandemia de covid-19. São Paulo lidera o índice de contaminados com 1.031 doentes, seguido por Rio de Janeiro, com 169. Minas Gerais tem 63 e Paraná, 41. O atual surto da doença segue como alvo de estudos por cientistas de todo o mundo.
O primeiro indicador relevante para entender a real gravidade do surto é o índice de positividade. Ou seja, o percentual dos testes realizados em determinado local com resultado positivo. De acordo com o laboratório Richet Medicina e Diagnóstico do Rio de Janeiro, a taxa de positividade na cidade gira em torno de 33%. Os testes realizados são do modelo PCR-RT, similares ao da covid-19, adaptados à infecção provocada pelo vírus, realizados a partir da coleta da mucosa das lesões provocadas pela doença.
Doença se alastra
Autoridades da Índia divulgaram, nesta semana, a quarta morte pelo vírus no mundo. Um jovem de 22 anos teria sido contaminado em uma viajem aos Emirados Árabes Unidos. Já a primeira morte oficial pelo vírus fora da África aconteceu na semana anterior, no Brasil. Um jovem morreu em Minas Gerais. Durante os primeiros dias desta semana, a Espanha também notificou mais duas vítimas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o atual surto do vírus como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Na prática, isso significa que os países afetados devem organizar ações planejadas em âmbito federal para combater a doença, além de informar os casos para a sociedade e para a entidade. Na sexta-feira (29) o estado de Nova York, nos Estados Unidos, decretou estado de emergência por conta do possível descontrole na transmissão da varíola dos macacos. A cidade tem 1.383 casos, ao menos.
Sintomas e estigma
Pesquisadores do Reino Unido, que estão na vanguarda do entendimento dessa nova cepa da varíola dos macacos, publicaram estudo sobre novos sintomas. Entre eles, estão dor e inchaço em órgãos genitais. O resultado do levantamento reforça a característica de Doença Sexualmente Transmissível (DTS), que essa variedade da varíola dos macacos parece reafirmar.
Estudos indicam que existe uma preponderância de transmissão entre homens que praticam sexo com outros homens. As razões para isso podem estar na rede próxima de contatos íntimos, entre outras. Contudo, com a expansão do contágio, essa barreira aparente deve ser rapidamente superada. Isso porque – ressaltam as pesquisas – essa não única forma de contágio. Porém, o preconceito impede o conhecimento correto da doença, além de criar estigmas injustificados.
Ignorância e contágio
Um médico espanhol publicou em seu Twitter um caso que exemplifica um dos malefícios do preconceito. Ao andar no metrô de Madrid, o profissional identificou um possível contaminado a partir de bolhas típicas da doença visíveis em sua perna. Ele relata ter questionado o rapaz, que confirmou o diagnóstico. Ele não usava sequer máscara. Disse que não recebera indicação de seu médico.
Então, o médico impressionado com a situação questionou pessoas que estavam ao lado do doente. A resposta de uma delas foi impactante. “Como vou temer se eu não sou gay?”, disse uma senhora.
Este relato revela o poder nocivo da desinformação na área da saúde, assim como aconteceu com a Aids na década de 1980. Patógenos não possuem preconceitos, não escolhem credo, identidade de gênero, orientação sexual, entre outras pluralidades. Entretanto, se aproveitam da ignorância que nasce do preconceito.
*Com Rede Brasil Atual