Cometeu-o porque quis, não foi por falta de aviso.
A ter-se as pesquisas Datafolha como referências, nada mudou entre o fim de junho e o fim de julho nas intenções de voto dos candidatos à Presidência da República nas eleições de outubro. Com ínfimas variações aqui e acolá, a situação permaneceu estável.
O que é bom para Lula, que lidera com 47% das intenções de voto, e mal para Bolsonaro, que ainda não ultrapassou a casa dos 30%. Cabe a cada um dos candidatos criar a narrativa que melhor se ajuste à sua pretensão de atrair mais votos para ser eleito.
Os dois lados podem ter razão em parte. O preço dos combustíveis já baixou há semanas, nem assim Bolsonaro cresceu fora da margem de erro. Mas é razoável prever que crescerá tão logo o dinheiro do auxílio caia no bolso dos eleitores mais pobres.
É a economia, sempre ela, que decide a sorte das eleições. Se a vida melhorar, o governante ganha, se piorar, perde. A vida piorou porque Bolsonaro não soube enfrentar a pandemia da Covid, mas o pacote eleitoreiro causará uma sensação de alívio até dezembro.
Se tal sensação será suficiente para que ele dispute o segundo turno, essa é outra história que se conhecerá no fim de agosto, início de setembro. Porque é disso que se trata – se haverá ou não segundo turno, se a eleição não será liquidada logo no primeiro.
O maior adversário de Lula em 2006, Geraldo Alckmin, quase empatou com ele no primeiro turno. No segundo, de tanto cometer erros primários, Alckmin conseguiu a proeza de ser menos votado do que havia sido três semanas antes.
Lula tem errado pouco na campanha que oficialmente sequer teve início, embora venha sendo travada por Bolsonaro desde que ele pôs os pés no Palácio do Planalto. Bolsonaro se comporta desde então como candidato. Faz mais campanha do que governa.
Bolsonaro tem errado mais do que se poderia imaginar. Dizem de certos candidatos que eles dispensam assessores seja para errar ou acertar; só fazem o que lhes passa pela cabeça. Bolsonaro é um desses, assim como Ciro Gomes (PDT).
Dos seus assessores políticos Bolsonaro ouviu que parasse os ataques contra a Justiça Eleitoral, mas não parou. Sua última obra de arte foi reunir embaixadores de outros países para ouvi-lo falar mal do seu. Não tinha como dar certo, e não foi por falta de aviso.
Subestimou a reação da sociedade adormecida. Uma vez que ela acordou e começou a rugir, ele está perplexo. O erro só foi menor do que sua parceria com o vírus que matou quase 700 mil pessoas. Mas, a essa altura, pode ter sido o erro que lhe custará a reeleição.
*Noblat/Metrópoles