De ex-presidente a militantes de base, o tema esteve na boca do público que foi ao evento para prestigiar pré-candidato.
Após o assassinato do dirigente petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (PR), no último sábado (9), a passagem do ex-presidente Lula (PT) por Brasília na noite de terça (12) teve como um dos destaques as constantes menções à violência política.
O tema esteve na boca não só do atual pré-candidato ao Palácio do Planalto, mas também de lideranças, parceiros político-partidários e militantes que foram ao local do evento para agraciar Lula e festejar a ida do líder petista à capital federal.
Logo depois de subir no palco, o ex-presidente fez referência ao tema. Em uma analogia indireta com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e sem citar o nome do ex-capitão, Lula destacou que, em sua longa trajetória política, não tem “nenhum sinal de violência”. Ao mencionar casos como o do assassinato de Marcelo Arruda, ele pediu para os apoiadores evitarem confrontos de ordem político-eleitoral.
“Nas greves de 1980, quando a polícia estava lá, preparada para sufocar os trabalhadores, eu dizia pros trabalhadores: ‘Olha, nós vamos sair do estádio e vamos pra represa pescar. Eu não quero ninguém brigando, ninguém aceitando provocação’. É isto que nós temos que fazer nestes próximos três meses”, aconselhou, ao pedir que os apoiadores deem “lição de moral”.
O tema permeou uma série de outros discursos no palco do evento. “Não vamos nos dobrar ao ódio”, disse, por exemplo, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que pediu um minuto de silêncio em memória de Marcelo Arruda e outras vítimas de crimes com teor político.
Ela citou Marielle Franco, Anderson Gomes, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, bem como o mestre de capoeira Moa do Katendê, todos assassinados em crimes movidos pelo ódio. “Ninguém vai colocar medo em nós. Nós não vamos abaixar a cabeça”, bradou a petista.
A altivez também marcou a fala do presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros, que exaltou a importância da coragem na atual disputa política como contraposição ao discurso de ódio: “Ao mesmo tempo em que temos que estar vigilantes e mobilizados, nós não podemos dar nenhum passo atrás. O medo não pode ter lugar entre nós”. “Eles não vão nos atemorizar”, emendou o candidato a vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), também em aceno contrário ao bolsonarismo.
Alerta
O assunto ganhou a audiência também da servidora pública Rosa Cimiana, que foi ao local do evento para ver o ex-presidente. Ela acredita que a violência política não inibe os eleitores interessados em manifestar seu posicionamento durante a pré-campanha, mas entende que a situação emite um alerta para este momento por conta do rastro que casos como o de Marcelo Arruda deixam no caminho.
“É muito preocupante, tanto é que hoje [12], em Goiânia, atingiram um diretório”, afirma, ao mencionar um incêndio que afetou a direção do PT na capital de Goiás. Ainda não se sabe as causas do ocorrido, mas o local já foi incendiado em outros dois momentos, quando houve constatação de crime.
Já a administradora Mariana Rosas, atual pré-candidata a deputada no Distrito Federal, diz não se preocupar com os ataques. “A gente enfrenta essa perseguição e essas ameaças desde muito antes da eleição da Dilma, então, a gente já está acostumado. A gente nunca saiu da rua e sempre se expôs. Isso não tira nossa coragem e nossa vontade de estar nas ruas e aqui falando do Lula”, garante.
Para o geógrafo e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) Valdir Misnerovicz, que veio de Goiânia (GO) para acompanhar o ato do ex-presidente, o que ocorreu no Paraná traz prejuízos à campanha eleitoral.
“Não há duvida nenhuma de que cria uma insegurança, uma preocupação muito grande. É uma tentativa clara de intimidar todas as lideranças, militantes e também os pré-candidatos que estão fazendo voz contra essa cultura do ódio disseminada por esse governo”.
*Com Brasil de Fato