O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse ao Estadão que recebeu R$ 50 milhões em emendas do orçamento secreto por ter apoiado a campanha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à Presidência do Senado, em fevereiro de 2021. Em entrevista, ele afirmou que foi informado da “gratidão” pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), articulador da eleição de Pacheco, após o resultado da disputa, que deu vitória ao aliado no comando do Senado.
“O critério que ele colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele enquanto outros não apoiavam”, disse o senador. Ele negou que o apoio tenha sido dado previamente em troca de votos, mas afirmou que o rateio foi estabelecido entre os líderes que estiveram ao lado de Pacheco na campanha. “Eu achei até muito para eu encaminhar para o Estado, mas como questão de saúde, eu não vou negar”, disse.
O relato do senador Marcos expõe pela primeira vez como são feitos os acordos de bastidores em torno da divisão do orçamento secreto. A legislação orçamentária estabelece que a divisão dos recursos públicos deve ser igualitária e impessoal entre os congressistas.
Revelado pelo Estadão, o esquema ainda fere a Constituição por não respeitar a “transparência” na divisão das verbas, na avaliação do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Contas da União (TCU). O orçamento secreto distorce as regras ao permitir que um grupo de três pessoas – os presidentes da Câmara, do Senado e o relator do Orçamento – decida quem vai receber bilhões de dinheiro público.
O Rodrigo Pacheco virou e falou para mim assim: “Olha, Marcos, nós vamos fazer o seguinte: os líderes vão receber tanto, os líderes de bancada tanto, essa foi a nossa divisão”. E ele me passou isso porque eu fui um dos que ajudei ele a ser eleito presidente do Senado. E aí eu falei: “Pô, legal, está transparente e tal”. Aí, ele falou: “Olha, se a gente conseguir mais uma gordura, eu direciono para você”. Não foi uma coisa: “Mas eu preciso que você me apoie”.
Ele chamou os quem eram mais próximos, que apoiaram a campanha dele, os líderes, e aí ele tornou: “Olha, o meu critério vai ser esse”. E todo mundo concordou. Então, ficou uma coisa transparente, assim, não: “Pô, quem será que ganhou mais?”
Eu não sei qual é a conversa que ele teve em valores com os outros. Para mim, quem me ligou dizendo foi até o Davi (Alcolumbre), não foi nem o Rodrigo. E aí com o Davi que eu perguntei. Eu achei até muito para eu encaminhar para o Estado, mas como questão de saúde, eu não vou negar. Eu perguntei: “Mas teve algum critério?” Ele só falou: “Aquele critério que o Rodrigo falou para vocês lá no início”. “Ah, tá, entendi.” Mas ele falou: “Só que o Rodrigo te colocou no critério como se você fosse um líder pela gratidão de você ter ajudado a campanha dele a presidente do Senado”. Eu falei: “Poxa, obrigado, não vou negar e vou indicar”.