Bolívia condena asilo político oferecido por Bolsonaro a ex-ditadora: “Ingerência”

Bolívia condena asilo político oferecido por Bolsonaro a ex-ditadora: “Ingerência”

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O chanceler da Bolívia classificou as declarações de Bolsonaro como “infelizes” e como uma tentativa de ingerência do presidente brasileiro em assuntos internos bolivianos.

O Ministério das Relações Exteriores da Bolívia reagiu nesta terça-feira (28) à declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre um possível asilo político à ex-ditadora boliviana Jeanine Áñez, condenada a 10 anos de prisão por participar do golpe de Estado que derrubou o governo de Evo Morales em 2019 e promoveu dois massacres contra povos originários, segundo a Forum.

“Lamentamos as infelizes declarações do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que são absolutamente impertinentes, fazem uma ingerência inapropriada em assuntos internos, não respeitam as formas de relações entre os Estados e não coincidem com as relações de boa vizinhança e respeito mútuo entre Brasil e Bolívia”, disse o chanceler da Bolívia, Rogelio Mayta.

O ministro reforçou que “em hipótese alguma pode ser aceita qualquer ingerência nas decisões que correspondem soberanamente à Justiça boliviana”.

Mayta destacou que a condenação e a prisão de Áñez se devem a “várias acusações criminais, inclusive de ter cometido graves violações de direitos humanos” de acordo com relatório realizado por investigadores independentes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

“A impunidade é inadmissível”, disse o chanceler.

Áñez foi condenada a 10 anos de prisão pelo Tribunal Anticorrupção da Bolívia no dia 10 de junho. Além dela, o ex-comandante das Forças Armadas, Williams Kaliman, e o ex-comandante-geral da Polícia, Vladimir Calderón, também foram condenados com a mesma pena por participação no golpe.
Bolsonaro propõe asilo político a Jeanine Áñez

Em entrevista ao Programa 4 por 4, conduzido por apresentadores ultraconservadores, Bolsonaro revelou que chegou a conversar com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, sobre a situação de Áñez e dos demais golpistas condenados.

Bolsonaro insinuou que Jeanine Áñez teria assumido o poder legitimamente após a renúncia de Evo Morales, o que não é verdade, e ignorou os massacres que ocorreram no período. Áñez não fazia parte da linha sucessória da presidência da Bolívia e não poderia assumir o cargo mesmo com a renúncia do ex-presidente, que tomou a medida assediado por militares com o objetivo de evitar uma Guerra Civil.

Na entrevista, Bolsonaro reforçou que teve um encontro presencial com a ex-ditadora. Esse encontro foi secreto e não se sabe quando ou em quais circunstâncias ocorreu.

“O que for possível eu farei para que ela volte, volte não, venha ao Brasil se o governo boliviano concordar. Estamos prontos para receber o asilo dela, como desses outros dois que foram condenados a 10 anos de prisão”, disse Bolsonaro.

A declaração reforça a possível participação do Brasil no golpe da Bolívia. Investigações apontam que o governo do ex-presidente Maurício Macri, da Argentina, contribuiu com armamento e pessoal para a concretização do golpe. Resta saber qual foi a ajuda de Bolsonaro – e isso está sendo investigado no país vizinho.

O governo Bolsonaro foi o primeiro a reconhecer a “presidência” de Áñez, que foi desde novembro de 2019 até dezembro de 2020.

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