As bombas detonadas por Kassio Nunes Marques e a resposta dos seus colegas de tribunal.
Nomeado por Bolsonaro ministro do Supremo Tribunal Federal, Kassio Nunes Marques estava convencido de que seu plano era perfeito, o que deixaria feliz seu padrinho político, Ciro Nogueira (PP), chefe da Casa Civil e piauiense como ele, e o presidente da República. Afinal, Kassio foi posto lá justamente para isso, segundo Noblat, Metrópoles.
Na última quinta-feira (2/6), encerrada a sessão do tribunal que declarou a constitucionalidade de acordos coletivos e convenções coletivas de trabalho, Nunes Marques saiu direto para o aeroporto sem avisar a nenhum dos seus pares sobre a bomba que faria explodir em instantes. E que bomba! Na verdade, duas.
A primeira foi detonada por volta das 18h, quando seu gabinete anunciou que ele, em decisão solitária, reverteu a cassação do deputado estadual bolsonarista pelo Paraná Fernando Francischini (PL), acusado de disseminar vídeo com notícias falsas sobre fraudes nas urnas eletrônicas durante as eleições de 2018.
Em outubro do ano passado, por 6 votos a 1, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandato de Francischini, tornando-o inelegível até 2026. A segunda bomba de Nunes Marques explodiu depois das 22h, quando ele já estava fora de Brasília, aumentando o estupor dos seus colegas de tribunal.
Há pouco menos de três meses, por unanimidade, o TSE cassou o mandato do deputado federal bolsonarista por Sergipe Valdevan Noventa (PL), acusado de abuso de poder econômico nas eleições 2018. Pois bem: outra vez em decisão solitária, Nunes Marques, o agente de Bolsonaro infiltrado no Supremo, reverteu a cassação.
Bolsonaro foi comunicado antes sobre as duas bombas, e informou Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Ainda naquela noite, em sua live das 19h, Bolsonaro comemorou o primeiro petardo disparado por Nunes Marques. Não celebrou o segundo, que explodiria dali a horas, para fingir que não sabia.
“Kassio Nunes deferiu liminar favorável à restituição do mandato de Francischini. É uma coisa inacreditável essa cassação. Faltavam 10 minutos para acabar as eleições de 2018. Ele era deputado estadual, concorria a federal e falou uma coisa: que o cara ia apertar [na urna] o 17 [do PL] e saía o 13 [do PT}.”