Sertanejo é sócio do Frigorífico Goiás, que pagava à funcionária salário inferior a um quilo da “picanha mito” (R$ 1.799), que Bolsonaro comeu
A história é apenas mais uma, mas resume em poucos capítulos a tragédia e o deboche que se tornou o Brasil do presidente Jair Bolsonaro (PL). Um país com, por um lado, os ruralistas e os cantores sertanejos milionários que o apoiam e, por outro, funcionários humildes e explorados que recebem um salário inferior ao preço de um quilo da “Picanha Mito”, aquela mesma que o presidente comeu no Dia das Mães de 2021.
A picanha de gado wagyu com preço de R$ 1.799 o quilo (em 2021), traz um meme de Bolsonaro na embalagem. Gusttavo Lima se associou ao fundador do Frigorífico Goiás, Leandro Nóbrega, e desde o ano passado tem ajudado a vender franquias de açougues por todo o país.
Durante visita de Bolsonaro na capital Goiânia, na sexta-feira (27), o frigorífico envelopou um helicóptero com a imagem do presidente e o pôs para sobrevoar o percurso da comitiva.
O lado invisível
Já do lado invisível da história, o Frigorífico Goiás foi condenado a indenizar em R$ 26,3 mil uma ex-funcionária que teve seus direitos trabalhistas violados.
Conforme relato do site De Olho nos Ruralistas, a ex-funcionária foi contratada em maio de 2020 para o cargo de auxiliar de açougue, mediante salário de R$ 1.500. Ela, no entanto, recebia R$ 1.110,31 em carteira e o restante por fora, numa espécie de caixa dois. O valor é inferior ao do quilo da “Picanha Mito”, criada em homenagem a Jair Bolsonaro e comercializada no ano passado a R$ 1.799,99.
Ela conta que a empresa não fornecia equipamentos de segurança adequados, como luvas, e que, por isso, sofreu uma série de pequenos acidentes, cortando seus dedos. O vínculo empregatício durou seis meses.
Ainda segundo ela, o expediente começava às 7h30 e se encerrava às 20h30, de segunda a sábado, e às 13h30 aos domingos. Havia um intervalo de somente meia hora para repouso e refeição. Os réus alegam que o trabalho acabava às 18 horas, que o intervalo era maior e que a contratada tinha direito a uma folga por semana.
A acusação e a sentença
“As funções contratuais da reclamante eram a de embalar e frisar as embalagens de carnes, comercializadas pela reclamada, entretanto, com o passar do tempo, a reclamada passou a exigir que a reclamante fizesse cortes das carnes a serem embaladas, além da limpeza do estabelecimento e reposição de mercadorias”, diz trecho da peça acusatória.
Na decisão, publicada no dia 19 de maio, a juíza Cleuza Goncalves Lopes, da 18ª Vara do Trabalho de Goiânia, se refere apenas aos danos materiais, como vencimentos e horas extras, ignorando os acidentes de trabalho. Além de Leandro, são réus no processo a mãe do empresário, Maria de Fátima da Nóbrega, e o cunhado, Geraldo Magela Pinto da Costa. Gusttavo Lima, cujo nome de batismo é Nivaldo Batista Lima, não é citado.
As empresas mencionadas são a Carnes Goiás Eireli, a Distribuidora de Carnes São Paulo Eireli e o Frigorífico Goiás Carnes – Eireli. As três misturam seus nomes fantasias, mas, na prática, são todas administradas por Nóbrega. O cantor, por sua vez, entrou na sociedade por meio da Gsa Empreendimentos e Participações Eireli.
*Com Forum e site De Olho nos Ruralistas