A renovada ofensiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o sistema eleitoral, que trouxe a palavra golpe de volta à ordem do dia desta vez com o uso ostensivo dos militares na equação, começa a enfrentar resistência em Brasília.
Tanto o Ministério da Defesa quanto o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na leitura intuitiva em lados opostos da disputa, trabalham para arrefecer a crise das últimas semanas. O sucesso da empreitada não está garantido, mas sinaliza que a ruptura pretendida por Bolsonaro não é tão facilmente exequível.
Do lado da Defesa, o movimento do ministro Paulo Sérgio Oliveira de trazer para si toda a interlocução com a Comissão de Transparência das eleições visou retirar o elemento militar puro, na pessoa do então representante das Forças Armadas no órgão, general Heber Portella.
Como Paulo Sérgio é general de quatro estrelas, muitos políticos viram a ação como uma escalada na crise. Mas interlocutores do ministro apontam para o contrário: o âmbito do ministério é o governo, de natureza civil, enquanto o Exército é uma Força de Estado.
Mais importante, o movimento teve o aval do Alto-Comando do Exército, que segundo integrantes reprovou as perguntas adicionais feitas por Portella ao TSE, particularmente aquela em que ele cobra da corte providências em caso de suspeita de fraude.
A associação militar ao golpismo bolsonarista ficou evidente.
Retirando Portella do processo, ainda que nominalmente ele possa permanecer na comissão, Paulo Sérgio buscou isolar, segundo seus aliados, a crise numa instância do Executivo. Se vai dar certo ou se há a possibilidade de essa leitura ser otimista demais, é outra questão.
Não menos porque, se Bolsonaro fez cair toda a cúpula militar em 2021, nada o impediria de ceifar o ministro da Defesa. Como comandante do Exército depois daquela crise, Paulo Sérgio sempre foi um anteparo aos excessos do chefe, amparado pela corporação. No ministério, está bem mais exposto.
De seu lado, o TSE buscou despachar mais rapidamente o problema, dando negativas rápidas aos questionamentos adicionais de Portella e já considerando encerrar o trabalho da comissão, dando ele como encerrado.
Isso desagrada parte da cúpula militar, que por corporativismo não quer ver um general humilhado, ainda mais quando ele é o chefe da defesa cibernética do país. Mas a soma dos dois movimentos poderá fechar esse vazamento no dique institucional abalroado por Bolsonaro.
Isso porque a crise tem diversos atores e passos em falso, mas sua gênese é o questionamento feito pelo presidente às urnas eletrônicas.
Ele vai e volta, mas chegou a níveis apopléticos quando o presidente ocupou uma live na internet para apresentar supostas provas de vulnerabilidade do sistema, em julho passado.
*Com Folha