Para coordenadores, as cerca de 60 ações do “abril vermelho” marcam o retorno da reforma agrária popular.
“A jornada foi além das nossas expectativas. E ela significa uma retomada: não paramos por aí. No mês de maio temos várias ações programadas”. Márcio Santos ajeita o boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cuja coordenação integra, ao avaliar as cerca de 60 ações da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária feitas pelo movimento durante o mês de abril.
Com o tema “Por terra, teto e pão”, o chamado abril vermelho – relembrando o Massacre de Eldorado do Carajás, que em 2022 completou 26 anos – marcou a retomada das ações massivas do MST depois de dois anos desde que a pandemia de covid-19 começou.
Marchas, retomadas de latifúndios, plantio de árvores, distribuição de toneladas de alimentos, shows, o 16° Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra Oziel Alves e ocupações de sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram as principais ações recentes do MST.
Apesar de chamada de abril vermelho, a jornada começou antes e deve seguir depois do fim mês. Já no fim de março, uma mobilização nacional articulada entre movimentos sociais do campo e da cidade pressionou o STF a prorrogar a suspensão de despejos na pandemia até 30 de junho.
“Estamos reaquecendo os motores”, avalia Márcio Santos, de São Paulo, ao garantir que o movimento “tem uma série de atividades e ocupações programadas para o início de maio”.
“Nós temos ainda 80 mil famílias acampadas de norte a sul. É o reflexo dessa política concentradora de terra e riqueza no campo brasileiro, frisa.
O retorno da reforma agrária popular
Depois de dois anos sem encontros presenciais, cerca de 150 jovens sem terra dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins se reuniram novamente no Acampamento da Juventude em Eldorado do Carajás entre 13 e 17 de abril.
No Rio de Janeiro, em Sergipe, na Bahia, no Paraná e no Espírito Santo houve protestos nas sedes do Incra, em denúncia à paralisação da reforma agrária. No caso da Bahia, o Incra foi ocupado como ação final de uma marcha que percorreu 110 km de Feira de Santana até a capital do estado, com 3.500 pessoas.
Para Polly Soares, ativista do Pará e integrante, como Márcio, da coordenação nacional da frente de massas do MST, a jornada marca “o retorno da reforma agrária popular”.
“Vivemos um processo no Brasil desde 2016, e aprofundado durante o governo Bolsonaro, de criminalização dos movimentos sociais, paralisação da reforma agrária e desestruturação dos seus órgãos reguladores”, avalia. “Um processo que busca tornar a reforma agrária uma pauta superada”, sintetiza Polly.
“Quando trazemos isso de volta numa jornada de lutas depois de dois anos, nós estamos dizendo: esta pauta não está superada”, afirma. “Ao contrário: a reforma agrária popular é necessária. É com a produção de alimentos saudáveis, com distribuição de terra e com qualidade de vida para os trabalhadores do campo e da cidade que nós vamos superar a situação de crise econômica que nosso país foi colocado pelo governo Bolsonaro”, expõe Soares.
*Com Brasil de Fato