Apesar das declarações constantes do presidente Jair Bolsonaro de que não há acusações de corrupção em seu governo, ao menos cinco casos motivaram investigações ou denúncias para órgãos de controle.
O episódio mais recente, revelado pelo Globo, é de um ex-superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que relatou à Polícia Federal (PF) uma oferta de propina por um lobista com acesso à cúpula do órgão.
Ainda há outras investigações em curso, que apuram se houve irregularidades na compra da vacina contra Covid-19 até suspeitas de facilitação da exportação ilegal da madeira.
No mês passado, contrariando os fatos, Bolsonaro afirmou que desde o início do seu governo não há “uma denúncia sequer de corrupção” — uma afirmação que ele repete.
— O governo que teve um dos menores orçamentos da União, mas um dos que mais realizou obras em todo o Brasil, três anos e três meses sem uma denúncia sequer de corrupção — discursou o presidente durante evento em Xambioá (TO).
Ontem, ao participar de cerimônia de Cumprimento aos Oficiais-Generais promovidos no Palácio do Planalto, disse que “se um dia aparecer alguma coisa”, vai atrás.
— Aqui é um mesclado de civis e militares que se entendem, que interagem, que tem amor à sua pátria, e quer o melhor do seu país. E essa interação se vê, inclusive, no combate a um vírus, um dos mais mortais que se teve notícia ao longo de décadas no nosso país, o vírus da corrupção. Praticamente vencido. Tenho dito, se um dia aparecer alguma coisa vamos atrás.
O advogado Marconi Gonçalves, que comandou a superintendência do instituto no Maranhão entre novembro de 2021 e janeiro deste ano, contou em um depoimento à Polícia Federal que recebeu um pedido de propina logo após tomar posse. A proposta teria sido feita na porta da sede do órgão pelo lobista Pablo Said.
— Ele chegou e disse para mim: que muitas casas seriam construídas no Maranhão, e ele tinha interesse na construção dessas casas. E que se eu pudesse de alguma forma ajudá-lo, que não mexesse na equipe. Resumindo, ele disse: “Olha, rapaz, vamos fazer o seguinte: aqui todo mundo ganha o seu, e você não vai ficar do lado de fora. Eu te dou 10%” — descreveu Gonçalves ao GLOBO.
A suspeita de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin foi uma das principais linhas de investigação da CPI da Covid, realizada no ano passado no Senado. Em paralelo à atuação dos parlamentares, o caso também é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). No ano passado, o MPF citou suspeita da ocorrência dos crimes de corrupção e superfaturamento na compra.
O Ministério da Saúde chegou a empenhar R$ 1,6 bilhão para comprar a Covaxin, no contrato mais rápido e com doses mais caras, mas cancelou posteriormente a compra.
Ainda na área da Saúde, o Ministério da Saúde atuou para desembolsar, sem licitação, quase R$ 30 milhões em obras em prédios da pasta no Rio de Janeiro. Empenhados em ritmo de urgência, sob a justificativa da pandemia, os valores só não foram efetivamente gastos porque a Advocacia Geral da União (AGU) identificou indícios de irregularidades e cancelou os repasses. As informações foram reveladas no ano passado pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo.
Na época, o então superintendente do ministério no Rio, coronel da reserva George Divério, aliado do ex-ministro Eduardo Pazuello, não seguiu a recomendação da AGU de investigar os responsáveis pelas irregularidades nas dispensas de licitação.
A PF abriu recentemente dois inquéritos para investigar a atuação de pastores lobistas na pasta: um focado no ex-ministro Milton Ribeiro e outro nos pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura. A atuação dos pastores, que intermediavam o repasse de recursos para prefeitos, foi revelada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Ao menos três prefeitos relataram posteriormente que os pastores pediram propina para auxiliar na liberação de recursos para as suas cidades.
Em maio do ano passado, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi alvo de uma operação da PF que investigava se funcionários do ministério e do Ibama favorecendo indevidamente empresas que atuam no contrabando de madeira. Na mesma operação, o então presidente do Ibama, Eduardo Bim, foi afastado do cargo, pelas mesmas suspeitas.
A investigação causou desgaste em Salles, que pediu demissão cerca de um mês depois. Com isso, o inquérito saiu do Supremo Tribunal Federal (STF) e foi enviado para a Justiça Federal do Pará.