O cientista político Antonio Lavareda analisou a nova pesquisa Ipespe, divulgada nesta sexta-feira (25). De acordo com ele, o levantamento aponta que o medo da inflação disparou entre os brasileiros, o que faz com que o presidente Jair Bolsonaro (PL) pare de crescer. O chefe do Executivo vinha se aproximando de seu futuro adversário, o ex-presidente Lula (PT), mas estacionou.
Confira a análise:
1. Os preços “aumentaram muito” para 77% dos brasileiros e “aumentaram” para 20%. Apenas 1% disseram que ficaram “iguais” e outros 1% acharam que eles até “diminuíram. Acreditam que eles continuarão a “aumentar muito” nos próximos meses, 33% (eram 27% há uma quinzena), e creem que eles “vão aumentar”, 46%. Como em qualquer sociedade, o aumento da inflação se sobrepõe à queda do dólar e mesmo à redução do desemprego. E faz a opinião de que a economia vai no “rumo errado”, 63%, versus 27% que afirmam que ela está no “rumo certo”.
2. Quem tem mais responsabilidade pelo aumento dos combustíveis? “Governo Bolsonaro”, com 45%, empata com “guerra na Ucrânia”, também com 45%. Vindo depois, nessa categoria (“muita responsabilidade”), refletindo o debate político, os “Governadores dos Estados”, com 39%, os “Governos anteriores de Dilma e Lula”, 35%, e o “Supremo Tribunal Federal”, com 29%.
3. Volta a subir a “desaprovação” ao governo, de 63% para 65%. E a avaliação “ruim/péssimo”, de 52% para 54%. Enquanto a “aprovação” recua de 32% para 31% e o “ótimo/bom”, de 27% para 26%.
Recuperação de Bolsonaro é interrompida
Interrompe-se, assim, o movimento de recuperação da imagem medido nas cinco pesquisas quinzenais nacionais anteriores, que o IPESPE realizou este ano.
Se cumprida a expectativa da autoridade monetária de que o “pico” da inflação ainda ocorrerá em abril, com prováveis reflexos nos meses seguintes, isso poderá dificultar a recuperação da popularidade do Presidente antes do início da campanha eleitoral.
A partir de junho também acaba a propaganda oficial, incluindo a utilização das redes de TV para anúncios de programas federais. Ou seja, encerra-se o período em que o Governo tem monopólio da propaganda, restando à Oposição fazer barulho apenas na imprensa e nas mídias sociais.
Lula aumenta vantagem sobre Bolsonaro
4. Quanto à eleição, sobe de 15 para 18 pontos a diferença Lula-Bolsonaro no 1º turno. Lula foi de 43% a 44%; Bolsonaro recuou de 28% para 26%.
Moro avançou 1 ponto, tem agora 9%, em 3º; Ciro perdeu 1 e ficou com 7%. Doria diminuiu para 2%. Janones, Simone Tebet, Felipe D’Ávila e Eduardo Leite têm 1%, cada um deles.
5. No segundo turno, Lula, da mesma forma, aumenta a vantagem sobre Bolsonaro, passando de 53% para 54%, e o presidente de 33% para 31%. Contra os demais adversários Lula tem: 52% X Moro, 30%; 51% X Ciro, 24%; 54% X Doria, 19%; 56% X Eduardo Leite, 19%.
O que explica o resultado de Bolsonaro na pesquisa
6. Os números da avaliação atual de Bolsonaro combinados aos da avaliação retrospectiva dos principais adversários fornecem a chave para se entender o resultado das pesquisas.
Em tempo de eleições “normais”, como as que teremos esse ano, tão diferentes das “eleições críticas” de 2018, onde a experiência político-administrativa dos postulantes é muito reclamada pela sociedade, uma vasta literatura da ciência política, inclusive a brasileira aponta para a fecundidade interpretativa do modelo de voto “prospectivo- retrospectivo”, como principal chave para desvendar os resultados das intenções de voto.
Muito sucintamente, o modelo nos diz que os eleitores, consciente ou inconscientemente, projetam um eventual futuro governo sob o mando dos candidatos baseados: a) nas propostas e promessas de difícil credibilidade que eles fazem; b) e, sobretudo, na avaliação atual (do incumbente) ou “retrospectiva” no caso de ex-governantes, do seu desempenho anterior.
Experiência no cargo em disputa
Lógico que a experiência no cargo em disputa é mais relevante do que em posições inferiores. O quadro abaixo hierarquiza por saldos cada um dos cinco primeiros colocados na pesquisa. A leitura positiva dos governos de Lula (58%) desenha o mercado onde se situam seus atuais eleitores do primeiro ou segundo turnos. O mesmo se dando com os demais. Bolsonaro foi perguntado como presidente atual.
Lula pelo recall de seus governos; Moro e Ciro, pelo dos respectivos ministérios; e Doria, pela sua atuação como governador. Essa avaliação é baseada no que as pessoas “sabem ou ouviram falar”. Segundo o paradigma teórico citado, essa variável, cujos números podem naturalmente melhorar ou piorar ao longo do tempo, será fundamental para ditar as chances dos concorrentes.
É interessante notar que, no momento, muito da comunicação de alguns presidenciáveis passa bem longe dessa preocupação.
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