Perto de terminar um mandato marcado pela oscilação entre a negligência e a destruição, e sem um único projeto de infraestrutura importante colocado em prática, Jair Bolsonaro desembarca no Nordeste para tentar, mais uma vez, surfar em obras que não são suas, mas dos governos do PT. Nesta terça-feira (08/02), segundo os petistas, “o ladrão de obras que ocupa o Planalto” visita o município de Jati, no Cariri (CE), para acompanhar a liberação das águas do São Francisco ao Cinturão das Águas do Ceará. O projeto de transposição do rio é uma das marcas da gestão de Lula, afirma a agremiação.
“Simbolicamente, a chegada das águas marca a etapa final da obra tal qual pensada pelo petismo ainda no governo Lula”, registrou Robson Bonin, da coluna Radar da Veja. De acordo com o colunista, o governo preparou uma “grande festa” para a chegada das águas em Jardim de Piranhas, no Rio Grande do Norte, finalizando o percurso das águas iniciado no Ceará.
A “festa”, na verdade, é um ato de desespero de Bolsonaro, que vê sua popularidade derreter dia após dia, depois de três anos ininterruptos de ataques ao Brasil. A estratégia de roubo das obras de Lula e Dilma, especialmente a do São Francisco, pode, no entanto, se revelar um tiro no pé. O extremista de direita manobra para apropriar-se indevidamente de projetos alheios justamente no Nordeste, Região historicamente desprezada por ele e pela qual Lula tanto fez. Os nordestinos não esquecem.
“Todo o Nordeste sabe que a transposição [do são Francisco] deixou de ser conversa e se tornou realidade no Governo de Luiz Inácio Lula da Silva”, aponta o deputado estadual Francisco do PT, líder do governo de Fátima Bezerra na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, em artigo publicado no site do PT. No texto, ele lembra que o projeto original tem quase 200 anos, mas tornou-se realidade, de fato, com Lula, após a passagem de 34 presidentes.
“Lula começou, Dilma continuou e os dois juntos fizeram mais de 90% de uma obra gigantesca que, nos dias atuais, conta com 477 km de canais em dois eixos (leste e norte), contendo 4 túneis de 23 km de extensão, 14 aquedutos, 27 reservatórios, 9 estações de bombeamento, 9 subestações de 230 kv, 270 km de linhas de transmissão e 6 ramais interligados”, explica o deputado.
“Pau de arara”
Seguidas vezes, Bolsonaro demonstrou, invariavelmente com uma certa dose de orgulho, desconhecer o Nordeste, seja a realidade sócio-econômica da Região ou a simples localização de uma cidade. Na semana passada, durante uma de suas lives, o ocupante do Planalto confundiu o estado onde fica a cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, referindo-se a Pernambuco. “Falaram que eu revoguei o luto de Padre Cícero. Lá do Pernambuco, é isso mesmo? Que cidade que fica lá?”, questionou.
Como se não bastasse, emendou: “Cheio de pau de arara aqui e não sabem em que cidade fica Padre Cícero?”, provocou ele, em mais um ato de desrespeito ao povo nordestino. Após ser corrigido – a estátua está em Juazeiro do Norte -, Bolsonaro tentou amenizar a agressão: “Parabéns aí. Ceará, desculpa aí, Ceará”.
Apropriação indébita
A prática de apropriação indébita de Bolsonaro e seu governo não é novidade. Ocorre desde que ele tomou posse. Em 2020, o chupim do Planalto tentou colocar em curso um verdadeiro roteiro de inaugurações de projetos de governos anteriores, totalizando 25 obras do PT, que ele cuidou de tratar como suas.
Em julho daquele ano, inclusive, o extremista usou a máquina bolsonarista de fake news do gabinete do ódio para tentar difundir a ideia falsa de que a Transposição do Velho Chico era obra de seu desgoverno. O Verdade na Rede do PT logo esclareceu os fatos, denunciando, por exemplo, mensagem mentirosa que atribuía como obra de Bolsonaro um canal de Pernambuco inaugurado por Dilma em 2015, entre outros projetos.
Na mesma época, a agência de checagem Aos Fatos revelou que uma foto tirada em 2017 de um açude no Ceará circulou como se fosse uma obra da transposição concluída por Bolsonaro. A imagem também foi comparada a outra, de 2012, tirada em Pernambuco.
*Por Esmael Morais