O texto publicado pela Folha não é polêmico; é racista, e faz parte de uma cruzada política de deslegitimação do movimento negro e do antirracismo. É uma reação ao avanço político e organizativo do MN e das vitórias conquistadas nos últimos 40 anos.
Diversas pessoas apontaram a indigência científica e política desse texto. No entanto, queria trazer um outro ponto. Essa cruzada não é aleatória: Em 2022 completamos 10 anos das aprovação das políticas de ações afirmativas federais e haverá a revisão da lei no Congresso.
Lembro que a discussão das Ações Afirmativas gerou uma controvérsia pública. Diversos intelectuais da elite brasileira se posicionaram contra as cotas, afirmando se tratar de um polêmica “racista e antibrasileira, importada dos EUA” (alguns mudaram de posição com o tempo).
O argumento do texto da Folha é o mesmo: o movimento negro e o antirracismo aparecem como um estrangeirismo. Insiste na comparação com os EUA, nega que o Brasil seja um país racista, se baseia no mito de democracia racial e estabelece pequenas exceções como norma.
Combater o movimento negro é combater um movimento de reinvenção do Brasil: a luta do MN colocou novas linhas e retirou outras dos livros de História, jogando luzes em séculos de opressão e violência escondido pela elite econômica, intelectual e política deste país.
Eles não suportam ver negros e negras afirmando sua existência e questionando as dinâmicas sociais racista do país. O negro, no projeto da burguesia branca, só serve para ocupar os lugares de servidão, não pode ocupar os lugares de poder.
Porque é este o debate de fundo: poder. O racismo é uma estrutura sócioeconômica que condiciona negros e negras, no caso brasileiro, aos piores indicadores sociais.
RACISMO CONTRA BRANCOS NÃO EXISTE!
Sobre o termo “neorracismo identitário”, trago mais algumas informações:
– Dos 10% mais pobres do Brasil, 75% são negros.
– Somos maioria nos empregos informais. 47% negros, 34% brancos.
– Somos maioria entre os que não têm acesso a esgoto: 42,8% negros 26,5% brancos.
– 75% das crianças mortas em razão das ações da polícia nas favelas do Rio de Janeiro são negras.
– Lares negros são os mais atingidos pela insegurança alimentar grave: 10,7% contra 7,5% brancos.
Informação é a agulha que estoura a bolha da fake news!
Compreendo quem optou por ignorar o manifesto racista publicado na Folha, mas penso que, especialmente nesta quadra da História, é fundamental rechaçar com veemência esses ataques. Há muita coisa em jogo, e não vamos abrir mão de denunciar e enfrentar os retrocessos.
Queremos um mundo onde possamos existir e viver com igualdade, liberdade, plenitude de direitos. E vamos lutar por isso com todas as forças.
Por fim, vamos propagar ideias negras na rede, o melhor antídoto aos polemistas de capuz branco.
*Do facebook de Dara Sant’Anna