Antes conselheiro do governo na pandemia, o contra-almirante e chefe da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, tem elevado o tom das críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), informa a Agenda do Poder.
Em entrevista à Folha, ele afirmou que a campanha do presidente para minar a imunização das crianças estimula grupos antivacina e insufla ameaças à vida de funcionários da agência reguladora.
Após a Anvisa aprovar o uso das doses da Pfizer contra a Covid para o grupo de 5 a 11 anos, Bolsonaro prometeu expor os nomes dos servidores do órgão e disse que a decisão tomada é inacreditável.
– Não tenho dúvida que as duas falas contribuíram sobremaneira para o número aproximado de 170 ameaças de morte, agressão física, violência de todo tipo contra servidores e seus familiares que a Anvisa tem recebido – disse Barra Torres.
Ele também considerou inadequadas a consulta pública e a proposta do ministro Marcelo Queiroga (Saúde) de cobrar prescrição médica para imunizar os mais jovens.
– Não guarda precedentes no enfrentamento da pandemia e está levando, inexoravelmente, a um gasto de tempo– disse Barra Torres.
O chefe da Anvisa afirmou que há sensação de “desamparo” na agência, que ainda aguarda resposta da Polícia Federal ao pedido de proteção aos funcionários Declarou que os servidores trabalham “no limite” e disse temer pela saída de técnicos —de um total de 1.600, 600 têm tempo suficiente para se aposentar, segundo Barra Torres.
No começo da crise sanitária, o militar chegou a ser usado pelo presidente como contraponto ao ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e esteve, sem máscara, em ato de viés golpista e pró-governo.