A crise política e econômica no Brasil já atingiu um status de enorme gravidade. Em meio a Pandemia e um governo que declarou guerra contra a população somado aos desdobramentos nefastos da crise econômica que se avolumam desde 2016, setores Neoliberais da política brasileira – precisamente os mesmos que criaram as condições políticas para que chegássemos a este ponto – já buscam alternativas para controlar minimamente a situação antes que ela descontrole de vez. A maior preocupação, do ponto de vista dos neoliberais, é que a grave situação leve a iniciativa do jogo político para as mãos das classes mais exploradas. Antes que isso aconteça, os Neoliberais (que no Brasil estão melhor representados pela gangue do PSDB) já preparam uma manobra que em vários círculos analíticos já é de conhecimento público e notório; a tática da “Terceira Via”.
Este tema aliás não pode e nem deve ser subestimado por aqueles que querem reagir à destruição do país impulsionada pela Burguesia neoliberal. É importantíssimo salientar esta informação porque muitos que se declaram oposição tanto de Bolsonaro quanto de setores orbitais acreditam que a “Terceira Via” do PSDB seria algo improvável ou de difícil execução. Em primeiro lugar, a “Terceira Via” – que passou a ser discutida de forma mais clara nos últimos meses está em marcha desde princípios de 2020 ou para outros intérpretes já em 2019. Não se trata de uma manobra improvisada e mobilizada de última hora. Em segundo lugar, ter conhecimento disso é fundamental para não ser pego de surpresa.
Que a Burguesia neoliberal ainda não tenha um nome para 2022 bem definido que consiga angariar apoio do povo contra Lula ou contra Bolsonaro, não restam dúvidas. É uma operação difícil. Muitos pensaram que a desistência de Luciano Huck como representante dos parasitas neoliberais teria sido algo como “a declaração de derrota do PSDB”. Estão redondamente enganados.
De forma alguma devemos subestimar este enorme risco que se avizinha porque, se lembrarmos muito bem o período pré-Golpe de Estado de 2016 detectaremos que a gravíssima manobra aplicada nesta ocasião também significava um imenso desafio. Foi um investimento pesado de dentro e fora do país como também arriscado, ou seja, por diversos momentos quase não se realizou. Hoje, o Golpe de Estado de 2016 no Brasil é debate recorrente em várias universidades Mundo afora como uma das mais sofisticadas manobras de golpe já realizadas devido às características complexas do Brasil contemporâneo e com a mobilização de vários setores simultâneos que iam desde a grande imprensa, passando por centenas de empresas, classe militar e sistema judiciário.
Subestimar a capacidade que a Burguesia neoliberal tem de configurar as manobras políticas necessárias para uma “correção de rota” é extremamente perigoso e um risco real no Brasil, em especial se considerarmos que a Esquerda brasileira tem tido dificuldades em ler a conjuntura desde antes mesmo do Golpe de 2016. Um pouco do avanço que a esquerda nacional teve em termos de detectar a malícia que se processava nas altas esferas do poder não é ainda suficiente para que esta tenha a real extensão dos riscos envolvidos. Em parte temos uma esquerda intelectualmente limitada, porém muito arrogante. Essa combinação é comumente decisiva e muito típica também na América Latina.
Em outra parte, vemos a presença de uma legião de setores da Esquerda que se ocupam de buscar uma posição de oportunidade material no aparato de Estado burguês manobrando com as situações de modo a garantir privilégios que eventualmente apareçam alienando-se da luta real que se trava. Trata-se de uma esquerda de características centristas e pantanosas que de “esquerda” propriamente dita seria apenas uma filiação partidária considerada de esquerda ou então uma posição burocrática de destaque num sindicato ou alguma organização social.
São estes dois setores da Esquerda que estão sendo cooptados neste momento para um projeto de reabilitação moral da Direita neoliberal diante da desidratação diária do regime Bolsonaro. Em nome de uma suposta união democrática para um bem comum que seria a retirada de Bolsonaro do poder, estas partes da Esquerda “democrática” estendem o tapete vermelho para o PSDB e demais organizações que se dizem hoje “arrependidas” de terem apoiado Bolsonaro no passado. Não percebem que com isso, reabilitam moralmente aqueles que tiveram papel preponderante na ativação do Fascismo no Brasil desde antes mesmo do Bolsonaro. Além de um erro de cálculo grotesco, este é um erro político perigoso porque na sequência de uma hipotética superação do Bolsonarismo, os setores “arrependidos” dispõem de muitos recursos de propaganda e apoio material do que toda a esquerda junta, o que coloca esta como o próximo alvo de criminalização. É extremamente preocupante vermos uma esquerda que não consegue compreender o descompasso na correlação de forças aqui envolvidas.
É evidente também que o PSDB – ainda que com todo o apoio da esquerda centrista – não tem tido sucesso em participar das manifestações Anti-Bolsonaro no ritmo e tonalidade que gostariam. Desta forma, assim que ficou clara a dificuldade do PSDB em ser “engolido” pela maior parte dos manifestantes nas grandes cidades do Brasil, um recuo na campanha da imprensa contra o Bolsonaro e a favor de uma “iminente” abertura de Processo de Impeachment foi drasticamente reduzida. Essa redução se verificou de forma nítida entre Junho e Julho de 2021.
A tática para os Neoliberais agora é outra. Sem um processo de Impeachment no horizonte para 2021, os esforços estão concentrados agora em diminuir a temperatura das manifestações dividindo-as cada vez mais. Nas manifestações do último sábado, 24 de Julho, foi notória a dispersão de pessoas e um certo ar de confusão em torno de onde se quer chegar. A presença de partidos dispostos a negociar com os Neoliberais como, por exemplo, o comparecimento obscuro de uma militância do PDT e afins bem como outros movimentos de defesa de pautas não tão imediatas da situação brasileira deram um tom de manifestação indefinida. Podemos classificar 24 de Julho como uma demonstração mais ou menos organizada de um descontentamento contra Bolsonaro, nada além disso. Isso contrasta com o fato do país já registrar fome epidêmica em diversas partes bem como um encarecimento geral de vida sem precedentes. Estes fatores são depositados na conta do Bolsonaro porém raramente associados ao processo pré-Bolsonaro. Essa desconexão dos fatos é uma das coisas que preocupam.
A Pandemia foi uma oportunidade que os Neoliberais tiveram de se afastar do Bolsonarismo ainda em 2020. Aproveitando o clima de instabilidade, os setores que apoiaram Bolsonaro começaram a polarizar com este em torno de questões como preocupação com a “Ciência” e com a “Saúde pública”. Esta defesa por “Ciência” e “Saúde Pública” é totalmente mentirosa e oportunista. Não é uma preocupação verdadeira. É notória a campanha feita em torno de João Dória como um governador supostamente preocupado com o “bem-estar” geral, responsável pelas vacinas e com as medidas de segurança enquanto Bolsonaro se deslocou ainda mais para o campo contrário, ou seja, defensor da Pseudo-Ciência, das aglomerações, da corrupção, do genocídio e etc. Essa história explorada pela grande imprensa não é um evento isolado e restrito ao universo de 2020 e início de 2021. Ela é aqui interceptada como A NARRATIVA dominante da Terceira Via para 2022. É esta a rota que deve ser interceptada como a nova manobra de Golpe.
A desidratação da Operação Lava Jato e a volta de Lula ao jogo político brasileiro foi entendida por muitos como a chegada da “nova era de aquarius”. Houve até quem já escalasse ministérios da gestão Lula a partir de 2023. Esse otimismo é uma ilusão de ótica. Os Neoliberais trabalham dia e noite para a criação de uma Terceira Via e esta deve ser expressamente denunciada. Desta forma, como maneira de não cair nesta armadilha, a agenda de manifestações não pode arrefecer no segundo semestre de 2021 e aqui se faz um apelo para que o próprio Lula participe dos atos e se coloque cada vez mais à frente do processo. É precisamente isso que os Neoliberais temem, ou seja, que o Lula se coloque efetivamente como o protagonista do Brasil atual. Muitos brasileiros que estão passando fome hoje se recordam do tempo em que tinham ao menos duas refeições diárias no período do governo do PT. A participação de Lula nas manifestações reagrupa toda uma legião de explorados e famintos que querem voltar a ter o mínimo de dignidade em um país que já completa 5 anos do Golpe de Estado de 2016.
É papel da Esquerda denunciar não só Bolsonaro mas TODOS os setores que levaram o país ao estágio que se encontra hoje. Esta situação de pobreza e miséria não é uma exclusividade do Bolsonarismo e sim dos desdobramentos criados pelo PSDB e demais partidos comprometidos com o Capital transnacional e que precisavam trazer a miséria ao país para colocar em prática uma agenda de exploração intensiva da população brasileira. Não devemos jamais esquecer o Golpe de Estado de 2016: um dos mais graves Golpes de Estado vistos no Mundo e onde a população do quinto maior país do Mundo foi enganada em um processo fraudulento e criminoso.