Arquivo está encoberto pelo texto de dois documentos enviados ao Ministério da Saúde às vésperas da assinatura do contrato. Ajuste de brilho mostra que procuração e certidão de fatos impeditivos têm duas cores. Senadora havia apontado indícios de falsificação nas notas fiscais.
Reportagem de Thaísa Oliveira, CBN, uma imagem oculta nos documentos da Bharat Biotech encaminhados pela Precisa reforça as suspeitas envolvendo a documentação. O arquivo está encoberto pelo texto de outros dois documentos enviados ao Ministério da Saúde um dia antes da assinatura do contrato para a compra da Covaxin. Um deles é a procuração que autorizou a Precisa a assinar o contrato bilionário em nome do laboratório indiano. O outro é uma declaração de inexistência de fatos impeditivos. Os dois documentos foram cobrados pela AGU às vésperas da assinatura do contrato, e enviados pela Precisa no mesmo dia.
A imagem que está encoberta é a de um documento da Bharat Biotech remetido ao Consulado da Índia no Brasil, pedindo um visto para que um funcionário da empresa brasileira pudesse entrar no país em janeiro. O texto está em inglês e é assinado pelo diretor executivo da Bharat Biotech.
A CBN ajustou digitalmente o brilho da imagem dos dois ofícios em português e da imagem do documento que está em inglês. Com o aumento do brilho, é possível verificar que os documentos em português têm duas cores, sendo uma idêntica à do documento da Bharat Biotech, em inglês. Mesmo tendo sido escrita à mão, a assinatura parece exatamente igual nas três imagens. As manchas do carimbo também se repetem. O que está diferente entre um arquivo e outro é o conteúdo.
Na sexta-feira, a CBN revelou que a procuração da Bharat Biotech e a declaração de inexistência de fatos impeditivos estão até com o nome e o endereço errados. Chama atenção também o fato de os documentos estarem em português, diferentemente de outros ofícios do laboratório indiano que já tinham sido apresentados.
No começo do mês, a senadora Simone Tebet apontou que as notas fiscais enviadas ao Ministério da Saúde tinham indícios de falsificação:
“Tem clara comprovação de falsidade de documento privado. Nós estamos falando de falsidade ideológica formulada por alguém”, sustentou. “Ele tem a marca e o logotipo desenquadrado, não está alinhado em alguns pontos, como se fosse uma montagem. Tem inúmeros erros de inglês. Talvez o mais desmoralizante deles seja ao 17. No lugar de ‘price’ está ‘prince’. Eu acho que é um dialeto que só eles conhecem.”
Desde que as inconsistências nas notas fiscais foram apontadas, a CPI estuda enviar a documentação para perícia.
A CBN procurou a Bharat Biotech e a Precisa Medicamentos na sexta-feira. Ainda não houve resposta. A CBN não localizou no processo da Covaxin nenhum documento com o mesmo conteúdo em inglês.