O maior erro de Pazuello foi achar que havia outra opção que não delatar Bolsonaro, ou falar de suas omissões como ministro do STF. Ao presumir que havia a opção de ficar calado para não produzir provas contra si, ou contra Bolsonaro, Pazuello entregou ao STF uma escancarada prova de culpa e certamente retornará à CPI da Covid como investigado, em situação bem mais complicada que a atual.
Como o estatuto da delação premiada não existe em CPI, restaria a Pazuello, caso desejasse colaborar, contar com a boa vontade do relator, em colocá-lo com pedidos de penas mais brandas ou imputá-lo menos crimes. É obvio que se o ex-ministro da Saúde falasse, teria a oportunidade de fazer prevalecer a sua versão sobre qualquer outra montada pela CPI. Ou seja, imporia a responsabilidade direta ao capitão presidente. Por mais esdrúxulo que seja, “um general de dez estrelas com o cu na mão”, estaria simplesmente cumprindo ordens.
Porém, vale lembrar que o Planalto inicialmente havia abandonado Pazuello, com o veto de Bolsonaro ao pedido de habeas corpus ao STF, para que pudesse permanecer calado, ou ser preso. A ordem do capitão cloroquina foi que a AGU não entrasse com o pedido. Então, Pazuello contratou um advogado particular para realizar o pedido, forçando Bolsonaro a dar sinal verde para o hc, já que o ex-ministro poderia se sentir abandonado.
A questão do abandono é outro problema, já que abandonar “um general de dez estrelas atrás da mesa com o cu na mão”, estaria afrontando os militares. Foi aí que Pazuello foi aconselhado a comparecer na CPI fardado, como forma de dar uma “carteirada” nos senadores.
A situação de Bolsonaro e Pazuello piorou consideravelmente nas últimas semanas e ainda mais, com desculpa esfarrapada de quarentena para não depor. A tentativa foi ganhar tempo para achar uma saída que, em vias de fato, não aconteceu.
Nesse momento, como dito, não haveria saída. Ficar calado piora a situação do ex-ministro na CPI, se falar e defender Bolsonaro, ninguém acreditará e o depoimento se tornará um massacre na reputação pessoal do “general de dez estrelas”. Como já parafraseado antes da música de Renato Russo, “que continuará atrás da mesa, com o cu na mão”.