De acordo com matéria publicada pelo Uol, relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) admitiu que reuniu 200 frases negacionistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia. O parlamentar teve dificuldade em apontar uma das frases porque “todas me assustam”, afirmou.
A afirmação do relator ocorreu durante o UOL Entrevista desta segunda-feira (3), conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral e pelo colunista Tales Faria.
De acordo com Renan, escolher as frases ditas pelo presidente foi um jeito encontrado para iniciar as investigações.
“Como é que vai investigar, cumprir seu papel constitucional, se há omissão, se há responsabilidade de um governo, de um presidente da República, sem começar juntando as frases e suas manifestações públicas? Não há como começar diferente”, afirmou.
Questionado sobre qual a frase que mais o assusta, Renan admitiu dificuldade em responder.
Olha, se você me perguntar mesmo isso eu terei muita dificuldade em responder, porque na verdade todas me assustam.
Renan é suspeito?
Renan afirmou que “nenhum governador absolutamente” será chamado para depor na CPI “porque é que quer quem deseja desviar o foco da comissão”, afirmou.
“Isso tem de ser investigado pela Policia Federal e Ministério Público e não uma CPI criada para apurar negligência e responsabilidade desse morticínio que apavora o Brasil”, afirmou.
A investigação dos governadores foi a razão da oposição para tentar impedir que Renan fosse escolhido relator da CPI. Pai de Renan Filho (MDB), governador de Alagoas, seria um dos alvos. Questionado se isso não o faria parcial na relatoria da comissão, Renan respondeu que “não tenho nem porque responder esse tipo de indagação”.
“Não há nenhuma investigação contra o estado de Alagoas, o mais transparente no Brasil”, disse “Se o desdobramento desta investigação precisar apurar Alagoas, não tenham nenhuma dúvida de que isso será feito com toda isenção como qualquer investigação requer.”
Quiseram fazer disso (…) um biombo para investiar estados e municpios para isentar o presidente da Repúblia, mas não é isso o que a sociedade faça. (Renan Calheiros)
Escolha conturbada
Crítico das medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) contra a pandemia, Renan foi escolhido após acordo entre 7 dos 11 membros da CPI considerados independentes ou de oposição ao governo. O ex-presidente do Senado quase foi impedido de assumir o posto depois que a Justiça Federal do Distrito Federal concedeu à deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) uma decisão liminar.
Zambelli defendia que Calheiros é pai de Renan Filho, governador de Alagoas, e por isso seria parcial nas investigações, cujo alvo inclui repasses federais a estados e municípios.
A decisão, porém, acabou caindo no último dia 27 por decisão do próprio presidente em exercício do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Francisco de Assis Betti, ao alegar que a escolha do relator é direito do presidente da comissão, no caso o senador Omar Aziz (PSD-AM).
Calheiros assumiu o posto defendendo que os responsáveis pelo agravamento da pandemia sejam punidos “exemplarmente”. Um dos alvos da comissão é o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que deverá depor na CPI na próxima quarta-feira (5).
Os outros dois ex-ministros da Saúde do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e o atual chefe da pasta, Marcelo Queiroga, também serão ouvidos. Mandetta e Teich falarão à comissão amanhã (4); já Queiroga dará seu depoimento na quinta (6).