A mídia lê a Constituição de cabeça pra baixo, pra dizer que Lula não foi inocentado.

A mídia lê a Constituição de cabeça pra baixo, pra dizer que Lula não foi inocentado.

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Quando o Estadão escreve que não ficou comprovada a inocência de Lula, ele faz o que toda a mídia fez, leu a constituição de cabeça para baixo, porque não cabia a Lula provar sua inocência, mas sim a Lava Jato provar a sua culpa nos crimes dos quais foi acusado.

E não há essa culpa em lugar nenhum na sentença proferida por Moro. Não foi sem motivo que ele condenou Lula por uma abstração retórica chamada “ato de ofício”.

Trocando em miúdos, Moro condenou Lula por condenar, porque deu em sua caixola, porque, na realidade, ato de ofício não tem qualquer significado do ponto de vista probatório, apenas a arrogância de quem, diante de uma realidade nua e crua, não recebeu qualquer denúncia do Ministério Público com provas e, por isso, Moro, não as tendo, proferiu uma sentença sem provas, simples assim.

Para sublinhar, o mesmo Moro ainda diz, “Este juízo jamais afirmou na sentença, ou em lugar algum, que os valores obtidos pela construtora OAS nos contratos com a Petrobras foram utilizados para pagamento da vantagem indevida para o ex-presidente”.

Por isso o ministro do STF, Alexandre de Moraes, fez questão de replicar essa fala de Moro dita pouco antes por Cristiano Zanin, advogado de Lula, para deixar claro que o próprio Moro confessou não ter absolutamente nada de concreto para condenar Lula. Daí os tais atos de ofício.

Mas por que Moro se sentiu seguro para condenar e manter Lula preso por 580 dias? Ora, porque a mídia já o havia condenado publicamente. E isso era parte do plano, é só lembrar da matéria do Le Monde   que revela o que os lavajatistas ouviram da norte-americana Karine Moreno-Taxman, especialista em combate à lavagem de dinheiro e ao terrorismo:

“Para que o Judiciário possa condenar alguém por corrupção, é preciso que o povo odeie essa pessoa”, afirmou depois, sendo mais explícita. “A sociedade deve sentir que ele realmente abusou de seu cargo e exigir sua condenação”, completou, para não deixar dúvidas.

E como se constrói isso? Foi o próprio Dallagnol que não cansou de repetir que, sem o apoio da mídia que comprava todas as mentiras da Lava Jato por conveniência política, eles não teriam êxito, mais que isso, a Lava Jato contratou uma consultoria de marketing para dar assessoria à autopromoção dos procuradores e do próprio juiz.

Ou seja, tudo tinha que parecer verdade, mas todos sabiam que era mentira. Todos, de alguma forma, foram culpados por construírem juntos, através de tratados e negociatas, uma história medíocre nas telas, dirigida a transformar Lula no retrato da corrupção brasileira para que aquele presidente que havia saído do segundo mandato com 87% de aprovação se transformasse em matéria morta e, em seguida, ser açoitado no tronco de Curitiba.

Por isso hoje vimos o nostálgico Estadão tentar, de forma ridícula e totalmente tardia, remontar a máquina de propaganda nazista criada para transformar Lula naquilo que era o desejo de Moro e da mídia que, numa terceirização informal, havia substituído o PSDB para fazer o papel de oposição.

Essa saudade lírica dos tempos áureos da Lava Jato é uma tentativa não só do Estadão, mas da mídia brasileira de construir uma rotação inversa à da terra com cambalhotas sobrenaturais, comuns à própria treva que tratou os diabos menores da Lava Jato como divindade e, hoje, não tem como transformar os próprios pesadelos que estão tendo com a volta de Lula em algo que não seja molecagem de quem, tudo indica, passará para a história como uma mídia histérica e manipuladora em perfeita harmonia com a crueldade olímpica feita contra Lula como se fosse a lei natural da vida.

Os verdadeiros bandidos de toda essa armação, seja Moro, os procuradores, ou os seus colaboradores na mídia, já se eximiram de qualquer culpa e não terão o menor problema em seguir uma vida normal depois de bancarem os carrascos do ex-presidente, deixando uma mancha gigantesca na história do judiciário e do jornalismo brasileiro.

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

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