Os constrangimentos que marcaram as duas conversas da médica Ludhmila Hajjar com o presidente Jair Bolsonaro fizeram políticos do Centrão lavar as mãos sobre a indicação do novo ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga. Bolsonaro decidiu colocar na pasta um nome da confiança do seu filho Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Com isso, o presidente demonstrou que, no momento mais dramático de seu governo, voltou a se isolar.
A resposta do grupo que tenta convencer o governo a dar uma guinada na Saúde é sempre de que a escolha é do presidente, mas há um tom de ameaça no ar. Um influente político do Centrão resume: Bolsonaro quis escolher um nome sozinho. Não tem problema. Mas terá que acertar na seleção do seu quarto ministro da Saúde porque, caso seja necessário fazer uma nova troca, o País não vai parar para discutir quem será o quinto, mas sim o próximo presidente da República. Na versão de um deputado, ninguém mais ficará brincando de escolher ministro.
No Supremo Tribunal Federal (STF), onde Ludhmila Hajjar também tinha amplo apoio para assumir o cargo de Eduardo Pazuello, o tratamento dado a ela foi considerado lamentável. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, colocou gasolina na crise ao tentar desmentir a médica no Twitter dizendo que ela não chegou a ser convidada para o cargo. A postagem foi feita pouco depois de ela afirmar, em entrevistas, que havia recusado a oferta. “Pode não ter tido um convite formal, mas a chamaram para o quê?”, perguntou ao Estadão um integrante do Supremo.
Dois ministros consultados pela reportagem dizem que Bolsonaro pode não ter iniciado os ataques a ela nas redes sociais, mas também não pediu para que seus apoiadores parassem. Quando Augusto Aras foi escolhido para a Procuradoria-Geral da República (PGR), a cúpula do gabinete do ódio foi para as redes pedir paciência dos apoiadores que exploraram as relações do chefe do Ministério Público Federal com o PT.
No encontro de mais de quatro horas com Bolsonaro no domingo, Hajjar foi sabatinada pelo presidente e pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um de seus filhos. Quem conversou com a médica diz que foi constrangedor o fato de o próprio ministro estar presente no momento em que se discutia a sua troca.
O site Poder 360 relatou que, durante a conversa, Hajjar foi questionada por Eduardo sobre qual sua opinião sobre armas e aborto. Bolsonaro perguntou se ela defenderia lockdown no Nordeste, o que, conforme o site, prejudicaria a sua reeleição. Pazuello, por sua vez, indicou que ele estaria sendo substituído por não ter o apoio político que ela teria. Àquela altura, o líder do Centrão e presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), já havia tuitado em defesa do seu nome. Razão pela qual uma das primeiras declarações da médica foi dizer que não tem vinculação partidária.
O Progressistas tinha interesse em voltar a comandar o Ministério da Saúde, uma pasta que tem orçamento de R$ 134,5 bilhões. Três nomes da bancada foram cotados para substituir Pazuello: os deputados Doutor Luizinho (RJ), Hiran Gonçalves (RR) e Ricardo Barros (PR). Nenhum deles foi sequer entrevistado.
*Andreza Matais – Estadão