Em última análise, o que estava em jogo era o controle do ministério da Saúde e seu super orçamento. O Centrão nunca escondeu de ninguém que queria o controle da pasta e, por isso indicou a Dra. Ludhmila Hajjar. O que surpreendeu foi o clã Bolsonaro, incluindo o pai e os três filhos, querer o mesmo.
Então, entre a indicação do presidente da Câmara, Arthur Lira, que é do Centrão, e o presidente da República, Bolsonaro resolveu deixar sob o controle de sua família essa montanha incalculável de dinheiro.
Ocorre que Lira está sentado em cima de mais de 60 pedidos de impeachment de Bolsonaro, basta, portanto, ele colocar um único pedido na mesa nessa altura da tragédia sanitária e colocar em votação, para Bolsonaro ser impichado quase que por unanimidade.
Bolsonaro, que já está com problema com prefeitos, mas sobretudo governadores, acabou abrindo uma outra frente de guerra com o seu principal aliado, o Centrão e, certamente, será cobrado por isso, já que o bloco de interesses que forma o Centrão tinha o ministério da Saúde como a joia da coroa a ser conquistada em troca da blindagem de Bolsonaro.
Na verdade, a aprovação de Bolsonaro despenca na mesma velocidade em que disparam os casos de contaminação e morte por covid, obrigando cada vez mais cidades e estados a imporem o lockdown, porque não há remédio e, muito mesmo vacina para lidar com esse cenário de guerra.
A base de Bolsonaro está nos CDL (Clube de Diretores Lojistas) e congêneres por todo o Brasil, que não têm o menor compromisso com a vida da população que, por sua vez, sustenta o próprio negócio dos gananciosos comandantes dessa verdadeira carnificina em nome do lucro justificado por uma suposta sobrevivência. Por isso estes são contra o lockdown.
Certamente existem comerciantes que dependem da venda diária, porque Bolsonaro os abandonou ao relento durante toda a pandemia, mas estes não têm influência nenhuma nessas confrarias que usam cargos de associações comerciais como degrau político e não para promover a integração comercial nas cidades.
Quem conhece minimamente essa dinâmica sabe que ninguém vira mais as costas para os comerciantes pobres, sobretudo os de periferias, do que os que comandam as associações patronais do comércio. Mas essas mesmas associações que sustentam a imagem de Bolsonaro Brasil afora, podem até não demandar de sua base de apoio por conta de lockdown, mas verão que Bolsonaro manda muito menos do que imaginavam, criando uma situação de desânimo em mantê-lo na presidência na base do que custe o que custar.
Por isso, a cartada de Bolsonaro querendo manter dentro de sua própria casa o controle do orçamento da Saúde, pode lhe custar a cabeça, porque se cair com um impeachment ou coisa do gênero, o clã sai inteiro algemado do Palácio do Planalto direto para o presídio, já que o que o segura é o poder e o consequente aparelhamento e instrumentalização das instituições de controle.
Ou seja, sem poder, sem liberdade.
*Carlos Henrique Machado Freitas