Lula: uma poderosa arma de agitação política no Brasil

Lula: uma poderosa arma de agitação política no Brasil

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A anulação de todas as condenações de Lula bem como desidratação irreversível da Operação Lava Jato (uma operação de Golpe de Estado estudada em todo o Mundo como uma das mais sofisticadas guerras híbridas já vistas para atingir um objetivo militar, econômico e geopolítico em comum) demonstra que a criatividade da Alta Burguesia na condução de manobras políticas bate em limites práticos intransponíveis – sobretudo em países com o grau de complexidade como o Brasil.

A experiência do Golpe de Estado continuado de 2016 partiu de uma modalidade exótica e complexa de ação onde a população foi seduzida e levada a acreditar que um processo de “moralização” estava sendo alcançado no campo da política e economia quando, na realidade, o que estava em andamento era o total oposto disso. Diferentemente do Golpe Militar de 1964, o Golpe de 2016 conseguiu se vender não só como uma cínica “cruzada cristã contra malfeitores” como até mesmo se vendeu como “democracia em pleno vigor”. O problema é que mesmo uma ilusão de ótica como esta não escapa às transformações dialéticas da História. Em outras palavras, a “mentira tem pernas curtas”.

A Operação Lava Jato e a prática de criminalização do PT, partidos de esquerda, sindicatos e etc só foi alcançada até um certo ponto com o apoio ativo da mídia, algoritmos de redes sociais, voluntários iludidos no interior da sociedade e um sistema judiciário desqualificado disposto a trair aquilo que se propõe de “fachada”; que é precisamente transmitir a ideia de que as “leis e os juízes” seriam algo como entes imparciais no Mundo, como se isso fosse possível em uma sociedade pautada por interesses de classes ao longo da História. As leis e os juízes na Ordem Burguesa pós-Revolução Francesa existem apenas para salvar interesses/privilégios de classe e não produzir justiça social. O poder judiciário não trouxe justiça social em nenhuma parte do Mundo capitalista que se tenha notícia em mais de 300 anos.  Contextualizações históricas à parte, a gravidade do que se queria alcançar com o Golpe de 16 impediu que a manobra pudesse trazer a “paz social” tão sonhada pelos seus autores (a alta Burguesia transnacional). A paz social não só não foi alcançada no Brasil subsequente a 2016 como o país mergulhou numa intensa polarização política que quando somada à crise econômica e sanitária da Pandemia do Novo Coronavírus  ganha contornos de muita imprevisibilidade política. Esta situação seguramente convenceu amplos setores poderosos a ter de reconhecer uma parte do desastre e retroceder peças no tabuleiro para preservar o jogo e ganhar fôlego.

Uma das situações que notadamente demonstram um recuo tático é permitir a volta de Lula ao jogo político para enfraquecer o monstro da Extrema-Direita que os próprios Neoliberais golpistas alimentaram por anos. De fato, Bolsonaro foi um grande negócio para os Neoliberais que incapazes de convencer nas Eleições de 2018 com candidaturas impopulares como as de Alckmin ou Marina Silva, decidiram apoiar, no frigir dos ovos, a candidatura de Bolsonaro em meio também à anulação de Lula no pleito. Observaram com isso que esta poderia ser uma oportunidade de ouro em aprovar todas as pautas antipopulares no Congresso como a Reforma da Previdência e ainda por cima depositar o ódio e revolta com o resultado destas reformas ao próprio Bolsonaro, deixando a imagem dos tradicionais picaretas de plantão do PSDB, DEM, Rede e afins incólumes para uma possível candidatura futura. Ocorre que a situação política saiu do controle. Nem Bolsonaro e nem Direita Neoliberal convencem mais, estão todos desmoralizados. A Burguesia decidiu recuar e permitir o retorno do Lula.

Agora também é fácil, aquilo que era necessário aprovar no Congresso em termos de choques Neoliberais, o mínimo (que já é um desastre para o povo trabalhador) foi alcançado nos anos Temer e primeiros dois anos de Bolsonaro. Para evitar um descontrole político maior, a Burguesia ensaia autorizar o retorno de Lula; em parte para aferir a temperatura política observando as reações e em outra parte para descomprimir o ambiente político. Não é conveniente para o poder econômico que ocorra uma hipertrofia de paixões políticas nem de extrema-direita e muito menos de extrema-esquerda. A Burguesia quer diminuir a temperatura. Altas temperaturas políticas colocam o andar de cima em risco. O caso Lula, agora livre de fato, demonstra que a Burguesia quer controlar a situação. O que não calculam muito bem é que mesmo que Lula não possa num eventual retorno ao poder revogar efetivamente todas as reformas golpistas e nacionalizar o que foi privatizado, Lula é ainda um adversário muito duro. Essa informação em geral costuma incomodar até determinados setores da esquerda que acreditam estar num rumo de criticidade e coerência quando alegam o fato de que Lula sempre foi um conciliador e irá conciliar mais uma vez se for pressionado. Porém, em que pese o fato desta informação ser historicamente correta, se esquecem que o jogo político não é sobre apenas a pessoa Lula mas sim aquilo que ele representa, a camada mais explorada e humilhada da população pelas agressões sistemáticas da Burguesia por décadas e que se aprofundou de forma grave nos últimos 5 anos. Lula é um fator de sintropia dos anseios mais imediatos das camadas pauperizadas e sua capacidade de canalizar esta força social é o que mais aproxima o país de um fortalecimento do campo popular, ou seja, Lula é um canal de agitação política – ainda que ele próprio ou seu Partido não queiram desempenhar este papel. Não estamos falando da pessoa Lula mas do “Movimento Lula”.

Esta é também uma contenda com setores da esquerda reformista que não receberam muito bem a notícia da volta de Lula ao jogo político. É sintomático quando elementos ligados a Guilherme Boulos e ao PSOL lamentam escondidos ou de forma tímida nas redes sociais, rangendo os dentes e murmurando com bronca o retorno de Lula ao cenário. Afinal, a oportunidade de lançar um candidato esquerdista alinhado com mais pautas Neoliberais e disfarçado de “radical” como Boulos ou similares cai por terra definitivamente. Não, não é desta vez que Boulos conseguirá atingir o seu sonho de conciliar com os Neoliberais de quem tem muito estimo até familiar, haja visto que seu pai é conivente há décadas com os Neoliberais. Os supostos esquerdistas de diretório acadêmico alegam, cinicamente, que a esquerda precisa de “renovação”. Como renovar a esquerda com elementos sem história? Sem identificação popular? Discursos e lacração em torno de temas identitários não são lastro político real em qualquer luta política que se preza, nem aqui e nem em nenhum lugar do Mundo. Trocar Lula por um conciliador carreirista e oportunista jovem, sem representatividade histórica é retroceder muitas peças no tabuleiro, é quase entregar o jogo para os Neoliberais de vez. É exatamente isso que a Burguesia gostaria. Incapaz de colocar este expediente em dia, devido à complexidade envolvida e em meio ao crescimento da crise social que se vê no país, articulam o retorno de Lula ao ambiente político do país.

Que Lula esteja idoso, que Lula já marcou a história do país, não tenha dúvidas. Porém, Lula é um ativo histórico, remanescente do movimento operário do ABC e por mais conciliação que tenha feito no passado, a condenação e eliminação de Lula do jogo político pela Burguesia nos últimos anos não ocorreu devido à sua conciliação mas sim devido ao seu ímpeto integrador das camadas populares à vida social no país, ainda que de modo limitado.

Lula é hoje um canal de agitação política com poder de despertar um movimento que até possa sair do controle do próprio PT. Aliás, é exatamente esse o medo dos oportunistas e carreiristas do PT, um partido que ainda integra muitos setores com concepções controvertidas do que é ser de esquerda, ou seja, concepções que se não são reformistas, são diretamente direitistas e neoliberais. A filiação partidária destes elementos é cosmética, é de fachada. O interesse é a fatia na integração orgânica com o Estado e seus privilégios. O medo destes elementos direitistas dentro do PT é que o Partido perca o controle do fascínio que Lula exerce no campo popular. Querem, ao contrário, manter o PT um partido restrito a uma esfera institucional, que respeite o “rito constitucional”, o mesmo “rito constitucional” que levou o país ao Golpe de Estado.  Não fosse o trabalho de base dos setores mais revolucionários do cenário político brasileiro como o PCO e as bases sociais mais aguerridas de dentro do PT, jamais Lula se quer teria saído da masmorra de Curitiba. Não é de se surpreender que até mesmo alguns membros do PT “jurídico” quisessem vê-lo morto.

Mas a água gelada caiu na cabeça de todos, Lula está de volta e independente da sua própria vontade será pressionado a girar pelo país. Não há tempo a perder, é necessário agitar politicamente a classe trabalhadora, tirá-la da defensiva. É só mesmo a mobilização popular que pode colocar a Burguesia e o Imperialismo na defensiva em meio a uma Guerra aberta e que se torna aguda à medida que a Crise do Capital avança no Brasil, América Latina e Mundo.

 

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One thought on “Lula: uma poderosa arma de agitação política no Brasil

  1. Elza Maria Silveira Rocha
    março 11, 2021 at 12:04 pm

    Muito lúcida a análise. Lula Gigante!

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