De “sambinhas” progressistas a hashtags lacradores nas redes sociais, o setor autointitulado de “esquerda” mais vinculado à pequeno burguesia e que detém um pouco de visibilidade e capilaridade na opinião pública já prepara a capitulação dos movimentos sociais à tese neoliberal. Muito encorajados pela experiência eleitoral norte-americana de capitulação dos movimentos sociais utilizando signos do identitarismo (movimento de extrema-direita que é apresentado pelos meios de comunicação como esquerda), os Neoliberais conseguirem manobrar com desenvoltura tal que deixou patente a nova estratégia da Alta Burguesia na pacificação da sociedade que outrora ela própria havia incendiado. Agora que diminuir a temperatura das lutas sociais é uma questão de sobrevivência, os Neoliberais mobilizam toda a sua caixa de ferramentas no sentido da formalizar uma corrente do “bem” contra as forças do “mal”, sem contudo ressaltar que os próprios bancaram a Extrema Direita até o último segundo e, aliás, continua bancando porque a Extrema-Direita sempre foi uma ferramenta de trabalho da Alta Burguesia.
Incapazes de desenvolver ou promover uma leitura crítica da realidade, os setores de esquerda institucional e até mesmo a acadêmica aderiram a crença de que combate ao “mau maior” é uma estratégia fundamental, sem um pingo de análise conjuntural. No caso da esquerda institucional, os motivos são mais rasteiros do que apostas numa suposta “estratégia metodológica”. A esquerda institucional entregou os pontos e não quer lutar contra o sistema. Isso ficou evidente em todos os processos eleitorais ocorridos após o Golpe de Estado de 2016 quando dobraram a aposta no subterfúgio chamado “urna eletrônica não auditável” e na “lindeza dos ritos constitucionais legais”. A luta aqui é por cargos e benesses via parlamento. Para não “pegar mal”, a corrida pelas boquinhas no Congresso passam por um “banho de loja” que é a propaganda ideológica que alguns canais e blogs jornalísticos executam e que se apresentam entusiasticamente como grandes porta-vozes da sujeira e imundice da esquerda venal. Esta operação conta com a dedicação do quadro de comentaristas e redatores pequeno burgueses especializados em desmentir os críticos alegando estes serem “negacionistas” e/ou “teóricos da conspiração”, acusações com palavras de efeito para inviabilizar e fugir do debate.
Indolentes e indispostos a dialogar diretamente com as camadas mais prejudicadas pelos efeitos devastadores do Golpe de Estado expandido de 2016 e que conjugaria energia crítica suficiente para por o sistema político hipócrita inteiro no chão, esta esquerda alega que o mais “realista” é dialogar na Câmara com os “adversários”. Tratam deste tema com empáfia e arrogância tamanha que acreditam serem os pensadores “científicos” da política nacional. Mergulham entretanto na decadência da própria ordem do Capital e querem levar junto consigo a esquerda e os movimentos sociais. Que sejam denunciados sistematicamente!
Os indícios são cada vez mais impressionantes e degradantes desta vinculação com os Neoliberais como por exemplo aquilo que é visto em páginas de Twitter, Instagram e demais canais de informação que compartilham discursos melodramáticos de âncoras como William Bonner “indignado” com a situação do país em meio à tragédia da Covid-19. Se esquecem porém que figuras como William Bonner bem como todo o jornalismo de império da manipulação desta organização terrível para a História do país chamada Organizações Globo são AS MAIORES responsáveis por tudo isso que tristemente testemunhamos. Como é possível a esquerda fazer propaganda da lamentação de William Bonner, como se este fosse o bastião da defesa pelos direitos civis do povo brasileiro? Onde é que nós iremos parar?
Hoje a esquerda pequeno burguesa é adversária também porque desempenha o papel de colaboracionista com os neoliberais. Diante da degradação intensa do sistema, ao invés de adotar uma postura equidistante do racha intra-burguês aberto com a crise do regime Bolsonaro, a Esquerda se comporta no sentido de resgatar e limpar a cara da Direita Neoliberal, sendo a sua maior base de propaganda. Como podemos conviver com esta situação? Um erro absurdo de leitura política – para não dizer má fé e traição.