Numa entrevista feita por Leilane Neubarth, especialmente projetada para um passeio de hipocrisia com o ministro do Supremo, Luis Roberto Barroso, que só dá entrevistas a ambientes fechados, melhor dizendo, em lugares reservados que lhe dão picadeiro, Barroso traduziu em uns 20 minutos de entrevista a que nível de rebaixamento moral chegou o sistema de justiça do Brasil.
O ministro falou para uma arquibancada de moristas e, para agradar essa parcela adestrada da sociedade, usou o momento para explicar o significado da palavra compliance, numa clara justificativa da participação de Moro como diretor da Alvarez & Marsal, empresa americana de recuperação fiscal que tem entre seus clientes as principais empreiteiras brasileiras levadas à falência pela Lava Jato, dizendo que, a partir de um conjunto de regras e normas em conformidade com as leis, o conceito dá integridade corporativa à empresa, adotando posturas éticas.
Depois dessa baba de quiabo, Barroso, que certamente é o mais deslumbrado dos pavões que já passaram pelo STF, falou cinicamente em combate à corrupção, mesmo sabendo que a sociedade, hoje, depois dos escândalos da Lava Jato vazados pelo Intercept, entende que, no final das contas, o juiz Moro era o verdadeiro bandido.
Mas Barroso, como é comum aos vaidosos, com certeza, não vê risco de perda de reputação no meio acadêmico, diante da sociedade esclarecida, porque a inacreditável e infantil ideia de que a Globo pode construir uma imagem divinal de sua conduta, sem perceber que está se abrigando num lugar cada dia mais desmoralizado do ponto de vista jornalístico.
Por isso, numa nova rodada de rasgação de seda na GloboNews, aonde Barroso é a principal celebridade com mais tempo de entrevista na casa do que o urubu de voo, o ministro com os olhos embotados de vaidade, não consegue descobrir o significado da derrocada de uma reputação a partir dos holofotes que passaram a ser rotina em sua vida de celebridade.
E assim Barroso vai cavando seu precipício ético acreditando realmente que está se promovendo.
*Carlos Henrique Machado Freitas