Delegação norte-americana colocou 5G, cerne da competição com a China, em acordos com o Brasil; embaixada do país asiático chama estratégia de ‘rede suja’ dos EUA.
Em mais uma investida de seu projeto de alinhamento aos conservadores dos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) celebrou nesta terça-feira (20) acordos comerciais com a nação presidida pelo direitista Donald Trump. Devido ao teor dos acordos, a atitude colocou o Brasil no meio da guerra comercial entre os EUA e a China. O cerne dessa disputa é a implantação da tecnologia 5G, na qual a chinesa Huawei é um dos maiores competidores globais.
A delegação norte-americana foi chefiada pelo conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert O’Brien. Ele mesmo anunciou um pacote de investimentos de US$ 1 bilhão no Brasil, e uma das áreas em que o dinheiro deve ser aplicado é justamente as telecomunicações. Em discurso no Itamaraty, O’Brien disse que Brasil e EUA não são só parceiros, “somos aliados”.
A investida de Trump para evitar a entrada da Huawei no Brasil inclui oferecer crédito para as teles brasileiras adquirirem equipamentos de fornecedoras ocidentais. O presidente dos EUA acusa a empresa chinesa, sem provas, de repassar dados sigilosos norte-americanos para o governo de seu país.
Bolsonaro fez questão de receber O’Brien no Planalto, onde posaram para fotos. Em uma delas, os dois usavam bonés com a inscrição “Make Brazil Great Again” – uma adaptação do slogan de campanha de Trump, “Make America Great Again”. No discurso que fez depois, no Itamaraty, o militar reformado declarou seu apoio a Trump nas eleições presidenciais, “não é segredo para ninguém”, disse.
O tom político do acordo comercial foi explicitado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Em seu discurso, ele disse: “Essa aproximação tem um sentido de geopolítica. Comercializamos com o mundo inteiro, mas sabemos quem são nossos parceiros geopolíticos”, afirmou. Lembrou que o Brasil é a “segunda maior democracia do Ocidente e a terceira maior -do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e Índia”.
Política X economia
Ao colocar o Brasil no meio dessa disputa, Bolsonaro pode afastar o país de seu atual maior parceiro comercial, que é a China.
De janeiro a setembro deste ano, as exportações brasileiras para a China somaram US$ 53,4 bilhões, 14% a mais do que os US$ 46,8 bilhões do mesmo período do ano passado.
Já para os EUA, país que o militar reformado adora servir, as exportações nos nove primeiros meses do ano caíram de US$ 22,1 bilhões em 2019 para US$ 15,16 bilhões neste ano, queda de 31%. O dado é do próprio Ministério da Economia.
A China acusou o golpe. Sua embaixada no Brasil fez uma série de posts nesta terça-feira no Twitter, sem referência explícita às negociações, mas com indiretas.
A embaixada escreveu que a China percebeu que “muitos países não estão interessados na ‘Rede Suja’ e até mesmo denunciam os movimentos dos EUA”. E que acredita que “a maioria dos países permanecerá independente, tomará suas próprias decisões, dirá não à ‘rede suja’ dos EUA e promoverá um ambiente de negócios justo, aberto e não discriminatório para empresas de tecnologia 5G em todo o mundo”