Por que existem grupos monarquistas no Brasil atual?

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Por que existem monarquistas no Brasil atual? Fazer esta pergunta ou trazer esta discussão à tona no Brasil pós-Golpe de 2016 e pós-Fraude eleitoral de 2018 – dois eventos que contaram com amplo apoio da classe média brasileira parece, em grande medida, chover no molhado. Para muitos analistas progressistas, a resposta pra esta pergunta é óbvia: existem grupos monarquistas no Brasil porque o proto-fascismo voltou a crescer no Brasil, assim como na América Latina e no Mundo: este é um fenômeno amplamente conhecido e intimamente ligado à Crise do Capital. Na esteira do neo-fascismo há também o apelo para outras ideias mirabolantes como o negacionismo, o misticismo, o terraplanismo e outros “ismos” – hora como defesa, hora como espantalho (como por exemplo no caso do retorno do McCarthismo).

Entretanto, esta reflexão é mais importante do que imaginamos. Destrinchar o Monarquismo contemporâneo permite entendermos o grau de desinformação de nossa sociedade que é mais vítima do que protagonista de desinformação. Em uma conversa recente com apoiadores do candidato Arthur do Val (também conhecido como “Mamãe Falei”) e que concorre à prefeitura de São Paulo nas eleições Municipais de 2020 fui confrontado também com esta tese de defesa do retorno à Monarquia. Embora a discussão seja indigesta e eu a sequer considere um tema sério de debate, tomei conhecimento da lógica por trás do assunto e é claro, não poderia deixar de ficar espantado.

Defender o retorno da Monarquia é aquilo que mais se aproxima de um surto de irracionalidade. Seria como se quiséssemos colocar os ponteiros do relógio para trás e defendêssemos a volta no tempo. Entretanto, para a minha surpresa, os monarquistas apresentam seus próprios argumentos que acreditam serem lógicos e racionais. Em essência, aparando todas as arestas, existem ao menos três correntes ideológicas de monarquistas. Irei partir das teses mais subjetivas para as mais pretensamente “objetivas”. Essa divisão em três correntes é um corte metodológico meu porque em grande medidas as três teses se misturam entre os seguidores do movimento monarquista.

Corrente Nº 1: A defesa do retorno da Monarquia expressaria aqui uma predileção de natureza subjetiva e talvez de colonização mental. A Monarquia está presente no imaginário brasileiro como uma insígnia de uma suposta e exitosa “organização política” europeia. Em pleno trópico e em um país colonizado por ibéricos existe uma tendência de acreditar que o europeu seria superior ao nativo ou ao africano, numa interpretação claramente eurocentrista e etnocentrista do Mundo. Existiria no país uma visão de que a Monarquia seria um regime político “disciplinador” e de pedigree que se coloca em oposição à coisas como “baderna”, “preguiça”, “desordem”, “jeitinho brasileiro”, “roubalheira” e etc. A lógica seria de que o brasileiro em essência (utilizando categorias de Max Weber) seria um povo predisposto a se “perder” com tanta liberdade que lhe é dada. Por isso, a Monarquia – insígnia do europeu – traria uma certa “estabilidade” ao país.

Bom, é claro que não poderia deixar de dizer que esta visão é altamente absurda além de ignorar por completo uma ampla série de variáveis presentes na própria história da formação do Brasil. Se o europeu traz essa suposta “disciplina”, onde é que se encaixa a História da Colonização do Brasil que foi um enorme caso histórico de corrupção e roubalheira como nunca se viu? Um massacre de grandes proporções que envolveu inclusive uma ampla variedade de contravenções e infrações de repercussão intergeracional. Além disso, alegar “disciplina” a um modelo europeu marcante de um período conturbado na Europa e que sofreu enorme resistência e oposição entre os séculos XVIII e XIX é, no mínimo, não querer enxergar a própria História da Europa e do Mundo.

Mas, tendo a achar que mesmo com referenciais lógicos da Historiografia, os defensores da Monarquia que partem para um viés subjetivo ou “emocional” não reconheceriam qualquer argumento contrário – afinal aqui não é uma disputa de quem é mais ou menos racional, trata-se de uma disputa de estética e discurso.

Corrente Nº 2:  A defesa do retorno da Monarquia para alguns monarquistas seria totalmente justificada pelo próprio Golpe Republicano de 1889. Ou seja, mais de 100 anos depois é possível encontrar partidários do antigo Partido Liberal que se sentiram “lesados” com as articulações que levaram ao Golpe Militar de 15 de Novembro de 1889. Ainda que eu concorde e até reitere que 15 de Novembro de 1889 foi um Golpe de Estado no Brasil para salvaguardar interesses de grandes oligarquias no país utilizando como bandeira um regime republicano falso (algo que aliás demonstra o grau de dissimulação histórica das elites oligárquicas brasileiras e isso pouco mudou no país inclusive), defender o retorno do modelo anterior é uma incoerência incongruente e improcedente. Seria o equivalente a se opor ao Golpe Militar de 1964 defendendo o retorno da Ditadura do Estado Novo de 1937 – ou seja – não existe o menor sentido nesta conta. Para trazer uma comparação com os dias atuais, seria como se opor ao Golpe de 2016 no Brasil defendendo a Volta da Ditadura de 1964! Uma coisa não justifica em absolutamente nada a outra coisa. Além do mais, a defesa do Partido Liberal contra o Golpe de 15 de Novembro de 1889 em que pese o fato de ser justificável para os próprios partidários que eram compostos por outras oligarquias dissidentes das oligarquias republicanas, era essencialmente uma disputa entre iguais. Onde o povo brasileiro lucra com uma intriga entre oligarcas? A não ser que os monarquistas sejam todos grandes latifundiários escravocratas que 100 anos depois ainda sentem no bolso o prejuízo das mudanças políticas que se davam no país em finais do XIX, qual seria a lógica de se defender a “honra” do antigo Partido Liberal da Monarquia? Reparem, não existe a menor lógica no argumento de “oposição ao Golpe republicano”. Trata-se de uma tentativa de defesa retórica de uma coisa indefensável, o retorno no tempo!

Corrente Nº 3: A defesa do retorno da Monarquia para alguns monarquistas seria justificada – PASMEM – por uma suposta “racionalização” da gestão econômica do Estado Brasileiro – acreditem se quiser. Como recheio do bolo, esta tese é a que mais tenta ser racional mas que se prova uma das mais absurdas. Segundo os “defensores economistas” da Monarquia, esta “enxugaria” o Estado que estaria, segundo estes, “inchado demais” com muitos funcionários públicos indolentes e ineficientes. Para abrir terreno à livre iniciativa, seria necessário mudar o regime e trazer os monarcas de volta – estes com “certeza” grandes “liberais econômicos” (RISOS).

Em primeiro lugar, a tese não pára em pé nem por um segundo. Ela entra em contradição até mesmo com os defensores do Liberalismo Clássico e com a própria História do ser humano. Não há regime mais burocrático que a Monarquia. Se existe Estado inchado na História Moderna e Contemporânea este é o Estado Monárquico por excelência que para garantir a centralização política em meio às transformações econômicas e sociais precisa e necessita ampliar os mecanismos de Estado para se manter no trono, ou seja, ampliar os gastos públicos e aumentar gradativamente a burocracia estatal. Reparem que quando chegamos neste nível de discussão, já não existe mais o menor resquício de seriedade e contextualização – nem histórica, nem econômica, nem política e nem cultural – vira uma conversa de bêbados.

Em segundo lugar, supondo que num “Universo paralelo” a Monarquia fosse sinônimo de livre iniciativa e desburocratização, com o atual desenvolvimento econômico da História – quem da população ganharia com isso se não uma pequena elite econômica e financeira? Onde está a lógica de querer angariar apoio de todas as camadas da população (de A a Z) em prol da Monarquia beneficiar uma ínfima camada de 1% da população brasileira? Em grande medida, o retorno da Monarquia – além de um desafio psiquiátrico – desempenha um profundo Golpe na própria população trabalhadora brasileira. Em suma, não existe a menor lógica em se defender um regime Monárquico em pleno Século 21. Assim sendo, o que podemos concluir do Movimento Monarquista que não uma expressão curiosa e criativa do Fascismo no Brasil?

É claro que no fundo chegaremos a mesma resposta sintética anunciada no primeiro parágrafo deste texto, os monarquistas representam uma variante exótica do neo-Fascismo. Entretanto, percorrer o caminho ideológico de defesa dos Monarquistas permite ver e aferir de forma mais detalhada o nível de confusão política à que o Brasil se encontra em plena Crise Política profunda à qual fomos submetidos desde o Golpe de 2016 e que nos vemos confrontados em pleno avanço da Crise Capitalista Global.

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3 thoughts on “Por que existem grupos monarquistas no Brasil atual?

  1. Bruno Cabral
    outubro 5, 2020 at 2:07 pm

    Tem uma quarta corrente, a de que a Monarquia traria um “poder moderador” capaz, por exemplo, de dissolver um congresso como o que roubou Dilma…

    Por outro lado, basta ver os votos dos herdeiros da coroa, um deles até deputado, que eram/foram defensores de facínoras como um certo hoje deputado mineiro que nunca vai preso nem com provas e do então presidente que enaltece torturador que colocava ratos em partes íntimas das torturadas…

  2. Monarquista
    setembro 10, 2022 at 6:03 pm

    Como sempre, sua análise é torpe e falha, com o único objetivo de corroborar com sua visão politica, não com a realidade. Uma verdadeira pós-verdade. O movimento monárquico brasileiro nunca “morreu”, prova esta foi o plebiscito de 1993, que, apesar de todas as restrições impostas a campanha monarquista, 10% dos votos totais foram a favor de nossa causa. Dizer ser um assunto “indigesto”, apenas demostra arrogância e prepotência de sua parte. Monarquia é um sistema de governo, como qualquer outro, nós que defendemos uma monarquia parlamentarista, apenas defendemos um sistema usado pelos países que tiveram sucesso nas pautas que vocês mesmos se dizem defensores. Dizer que “seria o equivalente a se opor ao Golpe Militar de 1964 defendendo o retorno da Ditadura do Estado Novo de 1937” faz o mesmo sentido que dizer “seria o equivalente a se opor ao Golpe Militar de 1964 defendendo o retorno da república de 46”, defender o retorno da república em 88 não seria como “colocar os ponteiros do relógio para trás e defendêssemos a volta no tempo”? Dizer que a monarquia é a “insígnia do europeu” é desprezar a história das centenas ou até milhares de reinos africanos e asiáticos. Dizer que a monarquia é “talvez de colonização mental” é esquecer que os reinos africanos foram subjugados, redesenhados e aglutinados pelos colonizadores europeus, originando suas repúblicas nos moldes da própria Europa. Você não gosta deste sistema por considerá-lo bolsonarista e/ou de direita. Todo seu texto é para fingir que não é por isso.

  3. Bruno
    setembro 11, 2022 at 2:56 pm

    Eu votei pela monarquia no plebiscito e me arrependo do meu voto, pois descobri depois que nossos monarcas são (primeiro eleitores de Aécio e depois) bolsonaristas.

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