O aumento da popularidade do governo de Jair Bolsonaro indicado por pesquisa CNI/Ibope divulgada na quinta-feira 24 se deve, basicamente, ao auxílio emergencial de 600 reais. É o que constata o sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi e colunista de CartaCapital. “É um resultado muito ruim para o Bolsonaro ter melhorado 10 pontos depois de gastar 300 bilhões de reais. É como se cada ponto representasse uma despesa de 30 bilhões. É muito pouco”, afirmou Coimbra em contato com a reportagem de Carta Capital.
O levantamento aponta que subiu a aprovação do governo na comparação com a última pesquisa CNI/Ibope, realizada em dezembro de 2019. 40% dos entrevistados classificam a gestão como ótima ou boa, ante 29% da última pesquisa. Segundo o levantamento, a avaliação da gestão Bolsonaro cresceu principalmente entre os entrevistados que têm renda familiar de até um salário mínimo.
“Eu acho que essa pesquisa, no fundo, é frustrante para o Bolsonaro, porque era para ter melhorado muito mais se a imagem dele tivesse, de fato, potencial de crescimento”, analisa Coimbra.
Leia a seguir os principais pontos da entrevista com Marcos Coimbra realizada nesta sexta-feira 25:
Marcos Coimbra: Provavelmente a principal, se não for a única razão dessa melhora do Bolsonaro, é o auxílio emergencial. É uma melhora de 10 pontos, se compararmos a situação da pesquisa anterior com essa nova. 10 pontos são muito, mas também são pouco, considerando o que aconteceu nesses meses entre a pesquisa anterior e esta.
CC: É um aumento sustentável?
MC: Tudo indica que o aumento desses 10 pontos é fruto do auxílio emergencial. Afinal de contas, do ponto de vista do governo, é talvez a única coisa boa que tivemos desde o início do ano – boa para quem recebeu e objetivamente precisava. Então, sim, é o resultado dos seis meses de auxílio emergencial, e é um resultado que dificilmente se sustenta nos próximos meses.
CC: Entre as áreas que mostram melhora na avaliação ante os resultados da pesquisa de dezembro, estão o combate à fome e à pobreza (de 40% para 48%) e a Saúde (de 36% para 43%). Como explicar isso diante do cenário de catástrofe que o Brasil enfrenta?
MC: Para a maioria das pessoas, avaliar o governo é sempre algo que tem a ver com um conjunto de ações. E quando existe uma ação que chama mais a atenção das pessoas, é essa que puxa o conjunto da avaliação das outras áreas. E é isso que eu acho que aconteceu na comparação da pesquisa anterior com essa. Houve algo que foi muito visível e foi bem avaliado [o auxílio emergencial] e esse algo faz com que as outras coisas tenham menos importância.
CC: Bolsonaro surfa, portanto, no auxílio emergencial de 600 reais, que a rigor é uma conquista da oposição no Congresso Nacional. A oposição falha ao permitir que predomine a narrativa de Jair Bolsonaro?
MC: Não considero que a paternidade do auxílio emergencial no Bolsonaro seja um sinal de incompetência ou incapacidade da oposição de tomar posse do que genuinamente é dela. Para as pessoas comuns, o que vem do governo é fundamentalmente uma decisão do governo federal, mesmo que tenha nascido de uma proposta no Congresso e que no Congresso essa proposta tenha sido formulada originalmente pela oposição. Então, para as pessoas, quem concede o auxílio é o governo, e a origem da iniciativa legislativa é pouco importante.
CC: Esse aumento de popularidade deve fazer Bolsonaro participar mais ativamente das eleições municipais?
MC: Difícil dizer. Bolsonaro preferiu não se expor na eleição municipal, sabendo que tem poucos candidatos que têm perspectiva eleitoral real nas principais cidades e nas capitais, para que ele possa depois dizer que ganhou a eleição. O melhor resultado para ele, na eleição municipal deste ano, é não ficar com cara de quem perdeu, porque a cara de quem ganhou ele sabe que não vai ter.
CC: Esses dados mexem no tabuleiro das projeções sobre 2022?
MC: A eleição de 2022 está longe, e é muito pouco provável que essa melhora de 10 pontos que ele experimentou este ano se sustente ao longo dos próximos dois, a menos que ele tenha dinheiro para continuar a fazer o que fez. Afinal de contas, estamos falando de uma melhora que vem como resultado de uma despesa da ordem de 50 bilhões de reais ao mês. Já foram 250 bilhões diretos no auxílio emergencial, mais 50 [bilhões] nos programas de sustentação de emprego e salários e ainda tem mais 75 bilhões até o final do ano.
É difícil imaginar que ele tenha outros 300 bilhões para gastar por ano daqui até 2022. O cenário para Bolsonaro é complicado porque ele não tem condições de manter essa imensa despesa pública. Não estou questionando se devia ou não devia fazer, porque era óbvio que a população precisava de um auxílio emergencial durante o período em que o país estava parado. Agora, a questão é a continuidade disso. E é um resultado muito ruim para o Bolsonaro ter melhorado 10 pontos depois de gastar 300 bilhões de reais.
É como se cada ponto representasse uma despesa de 30 bilhões. É muito pouco. É um sinal de que a imagem dele tem pouca capacidade de crescimento, a não ser que ele continue a gastar trilhões, tirando esses trilhões do bolso da sociedade – porque, em última instância, quem pagou esse auxílio emergencial não foi ele, foi a sociedade, e dificilmente esse custo é sustentável.
Portanto, eu acho que essa pesquisa, no fundo, é frustrante para o Bolsonaro, porque era para ter melhorado muito mais se a imagem dele tivesse, de fato, potencial de crescimento.
*Com informações da Carta Capital